por Ruy Fabiano Com Blog do Noblat - O Globo
O diagnóstico do Ministro Raul Jungmann, da Defesa, sobre o Rio de
Janeiro – “um estado capturado pelo crime organizado” -, desde ontem sob
intervenção militar, aplica-se, a rigor, a todo o país.
O que a Lava Jato tem exibido, há três anos, com minúcias de detalhes,
não é outra coisa senão a degradação institucional decorrente da
presença de criminosos, autônomos ou em quadrilhas, em alguns dos mais
altos cargos da República, nos três Poderes.
Não começou com Temer, que nada mais é que a continuidade do governo
anterior, do PT, em que figurou como vice. Tal como Dilma, Temer foi
imposto ao PT por Lula como o vice ideal para o avanço da obra petista.
Os dois primeiros mandatos de Lula prepararam a máquina estatal, via
aparelhamento, para o estágio seguinte, que seria o início do processo
revolucionário.
Tudo isso está nas atas do 5º Congresso do PT, realizado em Salvador, em
2015. Lula construiu as bases da aliança com os países bolivarianos,
integrantes do Foro de São Paulo, aos quais brindou com financiamentos
do BNDES, para obras de infraestrutura e reaparelhamento da força
militar. Preparou o ambiente.
A Força Aérea venezuelana, reequipada com verba brasileira, possui jatos
russos de última geração capazes de fazer o trajeto Caracas-Brasília em
30 minutos.
Os nossos fazem em 3,30 horas. Internamente, Lula rejeitou, de início, a
proposta de José Dirceu de aliança formal com o PMDB. Optou por comprar
apoio no varejo, estratégia que vigeu até o advento do Mensalão,
denunciado, em 2005, por um dos parceiros, o deputado Roberto Jefferson,
do PTB, que se sentiu logrado na repartição do butim estatal.
Lula, apesar do escândalo, reelegeu-se. Mas aproximou-se mais do PMDB,
tornando-o parceiro preferencial, passando a dispor de maior espaço na
máquina estatal, da qual não mais se afastaria. No governo Dilma, a
parceria formalizou-se.
E Temer, que presidia o PMDB e já havia presidido a Câmara diversas
vezes, foi o ungido. Como virtuose do fisiologismo, cumpriria, como de
fato cumpriu, o papel de garantir a coesão do partido.
A esse projeto se associou, com entusiasmo, o então governador do Rio,
Sérgio Cabral, mais próximo de Lula e Dilma que qualquer outro
governador petista.
O resultado é conhecido. O ponto fora da curva, nessa parceria que
parecia indestrutível, foi o choque entre Dilma e Eduardo Cunha no
segundo mandato da presidente.
Nem Temer conseguiu (ou quis) contorná-lo. Dele, resultou o impeachment e o olho gordo do PMDB em abocanhar sozinho o poder.
Mas o staff do partido que serviu a Lula e Dilma é o mesmo que serve a
Temer – inclusive os ministros demitidos por denúncias de corrupção:
Geddel Vieira Lima, Romero Jucá, Henrique Alves, que integravam o núcleo
duro palaciano.
Os que estão na marca do pênalti, citados em delações – Eliseu Padilha,
Moreira Franco, Helder Barbalho -, também serviram ao PT. Sarney Filho
(PV) e Gilberto Kassab (PSD), embora de outras legendas, sentem-se (e
são) parte da mesma família, desde Lula.
Temer é, pois, coautor da herança maldita que administra. E até o
ministro que escolheu para geri-la, Henrique Meirelles, é parte do
legado.
O que os distingue é que o PMDB não está comprometido com a causa
revolucionária do Foro de São Paulo, o que explica a fúria de seus
antigos aliados. Frustrou o projeto bolivariano.
O roubo petista ia além do simples propósito de tornar os seus agentes
ricos (sem, claro, deixar de atende-los). Visava, sobretudo, à
sustentação de um projeto criminoso – e permanente - de poder. O roubo
do PMDB é o convencional.
Atende às demandas pessoais do infrator. O do PT, por ter em vista a
causa revolucionária, de unir o continente pela esquerda, banalizou o
milhão e o bilhão. Chegou ao trilhão – e quebrou o país.
Mas não apenas.
Os vínculos com o narcotráfico, em especial as Farc, explícito nas atas
do Foro de São Paulo, inaugurou um período de leniência na legislação
penal e de forte estímulo ao crime organizado. O Rio é o epicentro dessa
ação.
No período petista, o Brasil deixou de ser apenas corredor de exportação
da droga; tornou-se o segundo consumidor de cocaína do mundo e o
primeiro de crack.
A inteligência do Exército já detectou que o país já é também produtor, abrigando aqui gente dos cartéis vizinhos.
O ministro Jungmann informou que o Estado Maior das Forças Armadas que
se instalou no Rio – e deve permanecer até o final de 2018 – constatou
que ao menos dois países vizinhos, cujo nome, por motivos óbvios, não
pode ainda citar (mas que todos sabemos ser Bolívia e Colômbia),
incorporaram o lucro do tráfico ao seu PIB.
Tornaram-se narcocracias e, como tal, tornam mais complexo o
desbaratamento do crime organizado. O Brasil hoje é um imenso Rio de
Janeiro, cuja capital está na Esplanada dos Ministérios.
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