por Ivanildo Terceiro
Em “A Legislação Trabalhista no Brasil”,
o professor Kazumi Mukanata afirma que o então sindicalista Luís Inácio
“Lula” da Silva teria bradado em alto e bom som que “A CLT é o AI-5 dos
trabalhadores”.
É difícil discordar do ex-presidente. A CLT faz o trabalhador brasileiro contribuir compulsoriamente com um sindicato que não pode sofrer concorrência na sua área de atuação e deve pedir permissão ao governo para funcionar. Ordenados desta forma, é fácil entender porque os mais de 16 mil sindicatos brasileiros estão tão distantes do trabalhador.
O
fato do dinheiro entrar, independentemente da vontade do trabalhador,
faz com que organizações sindicais sejam criadas com o único objetivo de
recolher o imposto, como
o “Sindicato das Indústrias de Camisas para Homens e Roupas Brancas de
Confecção e Chapéus de Senhoras do Município do Rio de Janeiro”.
A
chance de uma renda fácil fez muita gente se transformar de
profissional sindicalista em sindicalista profissional. Mais da metade
dos sindicatos do país têm o mesmo presidente há dez anos!
Não é raro que dirigentes sindicais acabem enriquecendo ao longo da sua carreira. Em um único caso
investigado pela Polícia Civil do estado do Rio de Janeiro, o Sindicato
dos Empregados no Comércio de Niterói e São Gonçalo rendia R$ 1
milhão/mês para sua presidente.
Desviar
dinheiro do trabalhador não foi o único meio que sindicalistas
encontraram para o enriquecimento fácil. Chantagear empresas com
movimentos grevistas e receber para encerrá-los parece ter sido uma
prática mais comum do que se suspeitava. Como as cinco vezes em que as
empreiteiras envolvidas na Lava Jato mandaram em sindicalistas
comprovam:
1. Lula: Polo Petroquímico de Camaçari
Em 1985, Emílio Odebrecht
estava encurralado. A empreiteira que leva o seu nome começava a
perfurar poços no Polo Petroquímico de Camaçari, na Bahia, quando foi
abatida por uma greve.
Diferentemente do usual, o movimento não contava com
o apoio do sindicato, tornando tudo mais difícil. Sem uma liderança
clara com quem negociar, o diálogo com os grevistas estava se provando
impossível.
Atirando
para todos os lados, Odebrecht pediu ajuda ao então prefeito MDBista de
São Paulo Mário Covas. Este teria ido em seu auxílio com uma pergunta:
“Você conhece Lula?”
Em sua delação,
o patriarca da família Odebrecht afirma que o encontro com o líder
sindical foi marcado na casa de Covas. Um almoço que começou ao meio-dia
e durou até nove horas da noite. De acordo com Emílio, a empatia
instantânea entre ambos foi o início de uma parceria que duraria
décadas.
Após a
aproximação, Lula o teria ajudado a lidar com o movimento paredista e
criou condições para que a Odebrecht tivesse uma “relação diferenciada
com o sindicato na área petroquímica em particular”. Em troca, a
construtora apoiou a candidatura de Lula ainda em 1989, impondo a
condição de que o candidato do PT controlasse o seu partido e não
estatizasse o setor petroquímico.
A
sociedade também atuou em 2002. Com o setor empresarial e financeiro
ainda temendo Lula, Emílio Odebrecht organizou encontros e jantares para
reduzir a desconfiança contra a candidatura.
Com o fim
do período de Lula na presidência, a Odebrecht continuou cuidando da
vida do ex-presidente e dos seus parentes. De acordo com Marcelo Odebrecht, Lula teria uma conta de R$35 milhões para atender seus pedidos junto à empreiteira. Além disso, a Odebrecht pagou uma
mesada para o irmão do ex-presidente, contratou a empresa do seu
sobrinho – até então um vidraceiro – para realizar grandes obras em
Angola e deu suporte financeiro para que o projeto de Luís Cláudio
(filha caçula de Lula) de criar uma liga de futebol americano no Brasil
saísse do papel.
2. CUT: Usina de Santo Antônio
Como parte integrante do consórcio que ergueu a Usina de Santo Antônio, no Rio Madeira, a Odebrecht receava que manifestações, greves e atos de sabotagem pudessem atrapalhar o andamento das obras. Ainda mais com o histórico da região.
A solução veio fácil. De acordo com o delator Henrique Valladares,
os 25 mil operários da usina atraíram rapidamente a presença de
sindicatos. A CUT (Central Única dos Trabalhadores) teria sido a
primeira a se estabelecer na região e arregimentar apoio.
Não é de se estranhar que tenham chegado tão rápido. Central sindical em atividade mais antiga do Brasil, a CUT também é a entidade com mais filiados e ramificações por todo o território brasileiro.
Como se
isso não fosse suficiente, o dinheiro para a central ligada ao PT
financiar suas atividades parece infinito. Além das dezenas de milhões
de reais do imposto sindical, a central também conta com financiamento da Fundação Ford e usualmente recebeu
o patrocínio de estatais nos últimos anos. A relação com as empresas do
governo era tão profunda que Vagner Freitas, presidente da CUT, recebia
para participar das reuniões do conselho do BNDES.
Com tantas
fontes de renda, a CUT pareceu não ter problemas em ter mais uma e fez a
Odebrecht pagar pedágios mensais aos seus dirigentes em Rondônia. A
ideia, nas palavras de Valladares, era que os sindicalistas não
“apoiassem greves, atos de violência, esse tipo de coisa”.
A
construtora também teria feito pagamentos regulares aos diretores do
Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil do Estado
de Rondônia. Em troca, eles não estimulariam os trabalhadores a praticar
atos de vandalismo no período de negociações coletivas.
3 e 4. Paulinho da Força (SD-SP): Embraport e a Hidrelétrica São Manoel
Paulo Pereira da Silva é uma das grandes lideranças do atual sindicalismo brasileiro. Presidente da Força Sindical há anos, Paulo carregou o nome da central que apoiou todos os governos desde a redemocratização, inclusive Collor, e se tornou o “Paulinho da Força”.
Apesar de
seus discursos supostamente em favor do trabalhador, Paulinho parece ser
um contumaz defensor de investigados na Lava Jato. Ex-integrante da
tropa de choque de Eduardo Cunha na Conselho de Ética da Câmara,
Paulinho agiu mais de uma vez para defender as empreiteiras dos
trabalhadores.
Em 2013,
um dos alvos dos protestos de estivadores e operários foi a Empresa
Brasileira de Terminais Portuário (Embraport), do grupo Odebrecht, que
chegou a ser invadida por 350 pessoas.
Assustados, os executivos do grupo procuraram Paulinho,
que pediu uma doação eleitoral, via caixa 2, de 1 milhão de reais! Em
troca, além da sua boa vontade, também utilizada para atenuar movimentos
na Refinaria de Abreu e Lima e nas usinas do Rio Madeira, a Odebrecht
recebeu uma tutoria de como lidar com movimentos sindicais.
De acordo com Alexandrino Alencar,
ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, a construtora
também bancou os eventos de 1º de Maio organizados pela Força. Sempre
intencionando manter uma boa relação com o deputado.
Paulinho
também teria servido Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC. Recebendo
mais de R$ 1,6 milhão durante seis anos, o deputado e dirigente sindical
passou a trabalhar para resolver os imbróglios trabalhistas de Pessoa.
Quando os
trabalhadores da Usina Hidrelétrica São Manoel, em Mato Grosso, pareciam
que iam causar problemas à sua construtora, o dono da UTC ligou para
Paulinho e pediu para ele resolver a situação. O presidente da Força
Sindical respondeu dizendo que estava entrando no circuito para entender o que estava ocorrendo.
5. Luiz Sérgio (PT-RJ) e Angra 3
Deputado
pelo PT há cinco legislaturas, Luiz Sérgio iniciou sua carreira como
presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Angra dos Reis (RJ). Foi
prefeito da cidade em 1994 e desde 1998 é sucessivamente eleito para uma
vaga na Câmara Federal.
Em 2014, o deputado fluminense recebeu uma doação de R$ 200 mil da construtora UTC. Em sua delação premiada, Ricardo Pessoa afirma que, na verdade, a doação foi uma troca com objetivo de evitar paralisações em um dos contratos mais importantes da sua construtora: a montagem de equipamentos da usina nuclear de Angra 3, em Angra dos Reis.
extraídadespotnis
Em 2014, o deputado fluminense recebeu uma doação de R$ 200 mil da construtora UTC. Em sua delação premiada, Ricardo Pessoa afirma que, na verdade, a doação foi uma troca com objetivo de evitar paralisações em um dos contratos mais importantes da sua construtora: a montagem de equipamentos da usina nuclear de Angra 3, em Angra dos Reis.
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