por Raquel Landim Folha de São Paulo
Se o objetivo da prisão é que o indivíduo reflita sobre seu ato
criminoso e se prepare para a ressocialização, Marcelo Odebrecht parece
não ter aprendido nada nestes 21 meses em que está atrás das grades em
Curitiba.
Questionado pelo ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Herman
Benjamin, que investiga a chapa Dilma-Temer, se dava ordens ao governo,
ele disse que não se sentia o "dono do governo", mas o "bobo da corte" ou o "otário do governo".
O empreiteiro se justificou dizendo que era convocado pelas autoridades
para fazer as obras que não interessavam a ninguém, mas que eram
politicamente importantes, como a Arena Corinthians ou a Vila Olímpica.
O que ele parece ter esquecido de mencionar é o que recebeu em troca desses "mimos".
Levantamento feito por esta Folha mostrou
que o grupo Odebrecht pagou em R$ 16,9 milhões em doações a campanhas
eleitorais e propinas a congressistas, mas lucrou pelo menos R$ 8,4
bilhões com a aprovação de duas medidas provisórias de seu interesse.
Só para reforçar: esse lucro foi obtido com apenas duas medidas
provisórias. É quase impossível calcular o tamanho do benefício
econômico da Odebrecht e de outras construtoras pelas propinas e favores
que faziam aos políticos.
Marcelo Odebrecht, portanto, não tem nada de bobo, mas é preciso reconhecer que pode estar se sentindo um pouco "otário".
Enquanto o empreiteiro deve permanecer preso até o fim do ano, os
políticos que corrompeu ainda estão longe de pagar por seus crimes.
Nesse caso, a culpa não é de Odebrecht, que terminou contando tudo o que sabia às autoridades em busca de uma delação premiada.
As principais razões são o anacrônico foro privilegiado, a inexplicável
morosidade do STF (Supremo Tribunal Federal), e a eficiência de alguns
políticos para "estancar a sangria".
Sempre criticada por sua falta de habilidade política, a ex-presidente
Dilma Rousseff perdeu o mandato, mas a turma que acompanha seu vice
Michel Temer vem demonstrando, mais uma vez, que é capaz de se safar de
qualquer escândalo.
O que Marcelo Odebrecht parece não ter entendido até agora é que os
verdadeiros "bobos da corte" continuam sendo os contribuintes
brasileiros, que sustentam com seus impostos a ganância de empresários e
políticos inescrupulosos.
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