Jornalista Andrade Junior

segunda-feira, 20 de março de 2017

ANATOMIA DE UM FASCÍNIO

 por Fábio Pereira.

 Em nós, entre nós. Acima e abaixo também. Tão próximo de nosso mais íntimo coração e perdido entre as nuvens, longe. Despertando nossa repulsa e nosso encantamento a todo o momento. Eis a natureza do Poder: a realidade de um fascínio.
Em seu livro Uma breve teoria do poder, o jurista, cientista político e homem público Ives Gandra Martins se propõe a contribuir para a apreensão do fenômeno do Poder, e o faz dentro um dos veios teóricos mais marcantes da tradição política ocidental: a tradição cética. Há na obra luzes claras de autores como Santo Agostinho, Montaigne e Locke.
O jurista paulista não tem a pretensão constitutiva de um outro cético, Montesquieu, com quem dialoga constantemente ao longo da obra. Gandra não pretende, como o barão francês, criar mecanismos que expressem e, ao mesmo tempo, contenham o poder, refreando o ímpeto natural do homem para o exercício do domínio. Seu trabalho é o de um minucioso anatomista: guiado (mesmo que para contrariá-los) por autores clássicos como Platão, Hobbes, Maquiavel e Kant e modernos como Hart, de Jouvenel e Rawls, esmiúça o corpo frio da história políticaem busca do proceder, das “astúcias” e da moralidade de democratas (e Gandra é um legítimo democrata), ditadores e toda sorte de aventureiros do poder na procura dessa joia de que se servem. Ives Gandra Martins emula com precisão o brilho fascinado nos olhos dos desejosos do poder ao longo da história: de Psístrato a Hitler, de Luís XIV a Fidel Castro.
Como jusnaturalista assumido, Gandra Martins postula a existência de uma ordem transcendente e justa, mas reconhece, e aí entra seu veio cético e conservador, que essa ordem se manifesta de forma sempre precária na história e que nela influem a natureza do homem, nem anjo nem demônio, e a força muitas vezes arrebatadora dos fatos políticos.
Em seu bom livro, apresentado em competente trabalho da Livraria Resistência Cultural Editora, Ives Gandra Martins informa ao leitor que o trabalho do estadista é buscar,dentro do possível,saber “a natureza íntima da justiça e da verdade” na política, mas que, no calor da política ordinária, bom mesmo ésaber “com que roupas elassaíram para dançar esta noite”.

Fábio Pereira é advogado e acadêmico de Medicina.






























extraídadepuggina.org

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