Jornalista Andrade Junior

quarta-feira, 22 de março de 2017

"Resultados de uma boa ideia",

editorial do Estadão

 O prefeito João Doria está perto de atingir o objetivo de zerar a longa fila de espera para exames médicos em atraso na rede municipal de saúde, que encontrou quando tomou posse, com a ajuda de convênios firmados com clínicas e hospitais particulares. Promessa ambiciosa de sua campanha eleitoral, recebida com compreensível ceticismo – tendo em vista o que geralmente acontece nesses casos –, o programa Corujão da Saúde saiu rapidamente do papel e se tornou uma realidade antes de completar dois meses.
Em dezembro do ano passado, o número de pessoas que esperavam para realizar exames na rede municipal era de 485,3 mil, como mostra reportagem do Estado, com base em dados de levantamento feito pela Prefeitura. Desse total, 68 mil foram reencaminhados para exame de reavaliação médica, porque já esperavam há mais de seis meses, e 77,8 mil deixaram a lista de espera antes do agendamento dos exames. São pessoas que, cansadas de esperar, fizeram exames por conta própria em clínicas particulares, ou tiveram de ser atendidas em serviço de emergência, ou não foram localizadas pelo Corujão.
O mutirão promovido pela Prefeitura atendeu 234,7 mil pessoas, segundo os dados mais recentes, com a média de 1 procedimento a cada 20 segundos. Na próxima etapa, a Secretaria Municipal da Saúde espera realizar mais 51,7 mil exames. Funcionou a ação conjunta da rede municipal e de entidades privadas, com o aproveitamento dos horários ociosos dos equipamentos nos dois casos. Para os pacientes isso convém, mesmo que o atendimento tenha de ser feito em horário noturno. A seguir nesse ritmo, será possível zerar a fila no prazo de 90 dias estabelecido pelo prefeito quando lançou o programa.
Embora ele tenha dado muito destaque à participação das entidades privadas – 38 clínicas e hospitais particulares –, o bom desempenho da rede municipal é um aspecto para o qual se deve chamar a atenção. “Hospitais onde só pessoas ricas, com plano de saúde, podiam ser atendidas, hoje recebem as pessoas humildes, as pessoas modestas da periferia, para fazer exames”, disse Doria ao comemorar o bom desempenho do Corujão, citando os Hospitais Sírio-Libanês, Albert Einstein, Beneficência Portuguesa, HCor e Oswaldo Cruz.
Dentro da sua orientação de buscar a cooperação da iniciativa privada, quando isso é possível, é compreensível a insistência do prefeito em exaltar a participação daquelas 38 entidades. E, do ponto de vista político, mostrar que as pessoas “humildes e modestas” podem, graças ao Corujão, ser atendidas em hospitais de “ricos”. Mas os números mostram que elas fizeram apenas 1 em cada 6 dos exames destinados a acabar com a fila. Os atendimentos da rede municipal chegaram a 196,5 mil, ou 83,7% do total. Ou seja, por mais importante que tenha sido a contribuição das clínicas e hospitais privados – assim como o seu impacto político para impressionar a população –, a espinha dorsal do Corujão foi e continua sendo a rede municipal.
Esse é um ponto altamente positivo e favorável para o próprio prefeito, porque demonstra que seu governo tem à disposição, em setor vital como o da saúde, um instrumento que, se bem manejado e motivado, pode ter excelente desempenho. O Corujão acabou por revelar a potencialidade da rede municipal de saúde. É com ela que Doria terá de contar, porque, além de episódica, a contribuição que as entidades privadas podem dar é limitada, como se viu.

A essa altura, tudo indica que o Corujão da Saúde será um êxito, que foi mesmo uma boa ideia. Mas como é da natureza do mutirão ele apenas colocará em dia o serviço, o que é de grande importância, porque será eliminado um obstáculo – a longa fila de exames atrasados – que compromete seu desempenho. Se Doria está mesmo determinado a melhorar o serviço de saúde que a Prefeitura presta à população, é preciso agora cuidar da rede municipal. O tempo vai dizer se ele saberá aproveitar essa boa oportunidade que criou.






















extraídaderota2014blogspot

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