editorial do Estadão
O prefeito João Doria está perto de atingir o objetivo de zerar a longa
fila de espera para exames médicos em atraso na rede municipal de saúde,
que encontrou quando tomou posse, com a ajuda de convênios firmados com
clínicas e hospitais particulares. Promessa ambiciosa de sua campanha
eleitoral, recebida com compreensível ceticismo – tendo em vista o que
geralmente acontece nesses casos –, o programa Corujão da Saúde saiu
rapidamente do papel e se tornou uma realidade antes de completar dois
meses.
Em dezembro do ano passado, o número de pessoas que esperavam para
realizar exames na rede municipal era de 485,3 mil, como mostra
reportagem do Estado,
com base em dados de levantamento feito pela Prefeitura. Desse total,
68 mil foram reencaminhados para exame de reavaliação médica, porque já
esperavam há mais de seis meses, e 77,8 mil deixaram a lista de espera
antes do agendamento dos exames. São pessoas que, cansadas de esperar,
fizeram exames por conta própria em clínicas particulares, ou tiveram de
ser atendidas em serviço de emergência, ou não foram localizadas pelo
Corujão.
O mutirão promovido pela Prefeitura atendeu 234,7 mil pessoas, segundo
os dados mais recentes, com a média de 1 procedimento a cada 20
segundos. Na próxima etapa, a Secretaria Municipal da Saúde espera
realizar mais 51,7 mil exames. Funcionou a ação conjunta da rede
municipal e de entidades privadas, com o aproveitamento dos horários
ociosos dos equipamentos nos dois casos. Para os pacientes isso convém,
mesmo que o atendimento tenha de ser feito em horário noturno. A seguir
nesse ritmo, será possível zerar a fila no prazo de 90 dias estabelecido
pelo prefeito quando lançou o programa.
Embora ele tenha dado muito destaque à participação das entidades
privadas – 38 clínicas e hospitais particulares –, o bom desempenho da
rede municipal é um aspecto para o qual se deve chamar a atenção.
“Hospitais onde só pessoas ricas, com plano de saúde, podiam ser
atendidas, hoje recebem as pessoas humildes, as pessoas modestas da
periferia, para fazer exames”, disse Doria ao comemorar o bom desempenho
do Corujão, citando os Hospitais Sírio-Libanês, Albert Einstein,
Beneficência Portuguesa, HCor e Oswaldo Cruz.
Dentro da sua orientação de buscar a cooperação da iniciativa privada,
quando isso é possível, é compreensível a insistência do prefeito em
exaltar a participação daquelas 38 entidades. E, do ponto de vista
político, mostrar que as pessoas “humildes e modestas” podem, graças ao
Corujão, ser atendidas em hospitais de “ricos”. Mas os números mostram
que elas fizeram apenas 1 em cada 6 dos exames destinados a acabar com a
fila. Os atendimentos da rede municipal chegaram a 196,5 mil, ou 83,7%
do total. Ou seja, por mais importante que tenha sido a contribuição das
clínicas e hospitais privados – assim como o seu impacto político para
impressionar a população –, a espinha dorsal do Corujão foi e continua
sendo a rede municipal.
Esse é um ponto altamente positivo e favorável para o próprio prefeito,
porque demonstra que seu governo tem à disposição, em setor vital como o
da saúde, um instrumento que, se bem manejado e motivado, pode ter
excelente desempenho. O Corujão acabou por revelar a potencialidade da
rede municipal de saúde. É com ela que Doria terá de contar, porque,
além de episódica, a contribuição que as entidades privadas podem dar é
limitada, como se viu.
A essa altura, tudo indica que o Corujão da Saúde será um êxito, que foi
mesmo uma boa ideia. Mas como é da natureza do mutirão ele apenas
colocará em dia o serviço, o que é de grande importância, porque será
eliminado um obstáculo – a longa fila de exames atrasados – que
compromete seu desempenho. Se Doria está mesmo determinado a melhorar o
serviço de saúde que a Prefeitura presta à população, é preciso agora
cuidar da rede municipal. O tempo vai dizer se ele saberá aproveitar
essa boa oportunidade que criou.
extraídaderota2014blogspot
0 comments:
Postar um comentário