Sérgio Roxo - O Globo
Em seus três anos, completados na última sexta-feira, a Lava-Jato passou como um rolo compressor sobre os nomes de destaque da cena política nacional. As citações em delações premiadas reduziram substancialmente o capital político de presidenciáveis e transformaram a corrida pelo Planalto em 2018 em um jogo totalmente aberto, sujeito à aparição de um novo nome.
O petista Luiz Inácio Lula da Silva, os tucanos Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra e até Marina Silva (Rede) caíram nas pesquisas de intenção de voto, mudando o xadrez político brasileiro. Como resultado das denúncias e investigações, um em cada quatro eleitores declara não ter candidato a presidente. Em pesquisa Datafolha divulgada em dezembro, em três dos quatro cenários testados, 20% dos entrevistados disseram que pretendem votar em branco ou nulo em 2018. Outros 6% não souberam opinar.
— Há um descontentamento muito grande com os nomes que estão postos — analisa o cientista político Carlos Melo, professor do Insper.
O histórico das pesquisas mostra que a perda de capital político começa logo após se intensificarem notícias sobre citações na operação.
Mesmo Lula, que lidera a corrida presidencial segundo as pesquisas, viu o seu desempenho cair. Em fevereiro de 2014, um mês antes de a Lava-Jato chegar às ruas, o petista tinha entre 51% e 54% no Datafolha. Sua rejeição era de apenas 17%. No último levantamento do instituto, em dezembro do ano passado, o petista, réu em cinco ações ligadas à operação, tinha metade das intenções de voto: apenas 25%. A rejeição era de 44%.
— O fracasso do governo Dilma e a Lava-Jato se juntam para explicar a queda no desempenho do Lula — diz Melo.
A situação do ex-presidente já foi pior. Pesquisa divulgada em março, dias depois de o juiz Sérgio Moro determinar a sua condução coercitiva para depor sobre o tríplex do Guarujá e o sítio de Atibaia, mostrava o petista com apenas 17% das intenções de voto e 57% de rejeição.
Para o professor do Insper, Lula conseguiu reagir pelo discurso que adotou e pelas denúncias contra integrantes do governo de Michel Temer:
— São duas coisas: tem o discurso da vitimização e também uma evidência de que ao tirar o PT para colocar o PMDB, do ponto de vista moral, não houve nenhuma grande mudança.
Segundo o cientista político, a liderança de Lula não facilita o seu caminho para voltar ao Planalto por causa da rejeição.
— O desafio não é ter 25%, é romper os 50%. No cenário atual, quem for para o segundo turno com Lula acaba tendo uma grande vantagem.
Aécio, que até 2015 liderava a corrida pelo Planalto, não está em situação mais confortável.
O tucano tinha em dezembro daquele ano 27% no Datafolha. Em fevereiro de 2016, caiu para 24%. A partir de março, quando aumentaram as citações ao seu nome na Lava-Jato, a queda se acentuou. Na pesquisa de dezembro do ano passado, o tucano somava apenas 11%. Apesar de aparecer na nova lista do procurador-geral da República Rodrigo Janot, Aécio não é réu em ação na Lava-Jato.
— O Aécio nem começou a apanhar direito por causa da Lava-Jato e já caiu do jeito que caiu — observa Melo.
Seus colegas de partido que também sonham em disputar a presidência em 2018, Serra e Alckmin, tinham 9% e 8%, respectivamente, no último Datafolha. O senador já chegou a ter 15% e o governador paulista, 14%.
Até Marina Silva perdeu capital político, depois que foi noticiado, em junho do ano passado, que o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro disse em negociação para fechar a sua delação premiada que fez contribuições via caixa 2 para a campanha da ex-senadora a presidente em 2010. A líder da Rede, que tinha em abril do ano passado no Datafolha entre 16% e 23% (a depender do cenário), caiu para um patamar entre 14% e 18%.
Na avaliação de Carlos Melo, o enfraquecimento dos nomes tradicionais pode tornar a disputa de 2018 muito pulverizada e levar candidatos com menos de 20% dos votos para o segundo turno.
— Abre espaço para o surgimento de um novo nome. O problema é se esses nomes que podem surgir são aglutinadores ou geradores de maior fragmentação.
É nesse vácuo que o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC) e o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), podem aparecer.
De acordo com o professor do Insper, além de reduzir o capital político dos presidenciáveis, a Lava-Jato também mexerá com a estrutura das futuras campanhas.
— O símbolo maior da Lava-Jato é o casal João Santana e Monica Moura. Essa prisão fere o que vinha sendo o coração das campanhas, que era o marketing político.
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