editorial de O Globo
A situação do Ensino Médio no Brasil é calamitosa. Um termômetro desse
malogro educacional são os números do Programa Internacional de
Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), exame aplicado
periodicamente para alunos de 15 anos em 70 países, entre eles os 35 que
integram a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE). O último, relativo ao triênio 2013-2015, mostra que o desempenho
dos alunos ficou praticamente estagnado. E num patamar crítico. Em
Ciências, o Brasil ocupa a 63ª posição no ranking, ficando à frente
apenas de República Dominicana, Argélia, Kosovo, República da Macedônia,
Tunísia, Líbano e Peru. Em leitura, mantém a 59ª colocação; e, em
matemática, a 65ª.
Dos resultados do Pisa, conclui-se, por exemplo, que a maioria dos
alunos brasileiros de 15 anos não detém conhecimentos básicos para,
segundo os parâmetros da pesquisa, “exercer plenamente sua cidadania”. E
que cerca de 82% dos nossos estudantes obtiveram menos de 483 pontos no
exame, alcançando, no máximo, o nível 2 de aprendizado, dos sete
estabelecidos na pesquisa. Em leitura e matemática, a maior parte sequer
alcançou o nível 2.
Nesse contexto, é bem-vinda a reforma do Ensino Médio aprovada mês
passado pelo Senado, por meio da Medida Provisória 746, e sancionada
pelo presidente Michel Temer. A chamada Base Nacional Curricular Comum
(BNCC) — que entra em vigor imediatamente, mas erá implantada
gradualmente — prevê, entre outras coisas, a flexibilização da grade
curricular. O que permitirá aos alunos, já a partir do primeiro ano do
Ensino Médio, optar por matérias de seu interesse profissional. Eles
poderão se aprofundar em linguagens, matemática, ciências humanas,
ciências da natureza e formação técnica e profissional.
Com isso, jovens que saem do ensino fundamental escolhem sua área de
carreira e se preparam para o mercado de trabalho. Atrativo importante
para que o adolescente se mantenha na escola — 12% na faixa de 15 a 17
anos estão hoje fora das salas de aula.
Outro ponto importante é a implementação do tempo integral. De acordo
com a BNCC, num prazo de cinco anos, todas as escolas de Ensino Médio
deverão ter regime de cinco horas diárias, em vez das quatro atuais.
Futuramente, toda a rede deverá adotar o turno de sete horas. As
mudanças valem indistintamente para escolas públicas e privadas.
Há quem critique o fato de a reforma, que tramitava há quatro anos no
Congresso, ter sido efetivada por meio de Medida Provisória, mas, diante
da crise aguda no Ensino Médio, as mudanças se tornam urgentes. Além
disso, a MP não exclui o debate sobre o tema. O Brasil já perdeu tempo
demais. Para que o país se desenvolva plenamente, é preciso preparar bem
os seus jovens para o mercado de trabalho, como fizeram nações
desenvolvidas. E, com o inexorável envelhecimento da população, o tempo
se torna cada vez mais exíguo.
extraídaderota2014blogspot
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