editorial de O Globo
Não há governante, em campanha ou no poder, que não prometa crescimento,
geração de empregos, um mundo de paz e prosperidade. Mas tudo depende
dos meios pelos quais os políticos procuram cumprir o que prometem.
O que houve nos 13 anos de lulopetismo no poder é ilustrativo. Na
campanha para o primeiro mandato, em 2002, Luiz Inácio Lula da Silva, ao
perceber que as velhas teses do PT não eram adequadas para conter o
dólar e a conseguente alta da inflação, processo disparado nos mercados
pelo temor diante da perspectiva de vitória do candidato de esquerda, se
comprometeu a cumprir contratos, a não dar uma guinada violenta no
transatlântico da economia brasileira.
Fez bem. Montou boa dupla para conduzir a economia, com Antonio Palocci
na Fazenda e Henrique Meirelles no Banco Central. Os dois seguiram os
manuais clássicos e infalíveis de estabilização econômica — juros altos e
cortes nos gastos. A inflação caiu e o PIB voltou a crescer, também
ajudados pela onda de expansão sincronizada de importantes economias.
Com destaque para a chinesa.
Infelizmente, no segundo mandato, com Dilma Rousseff na Casa Civil, Lula
desengavetou os manuais intervencionistas e “desenvolvimentistas” do
velho PT. O resultado é conhecido. E, por 13 milhões de desempregados,
vivenciado de maneira dramática.
Ao utilizar o agravamento da crise mundial, a partir do fim de 2008, com
o estouro da bolha financeira e imobiliária americana, como
justificativa para um desmedido aumento de despesas públicas, Lula e
Dilma começaram a lançar as bases da maior crise fiscal de que se tem
notícia na história do país.
Além dos 13 milhões de desempregados e seus outros milhões de
dependentes, uma vítima foi a própria Dilma Rousseff. Depois de
conquistar a reeleição, em 2014, já com o PIB ladeira abaixo, e com a
manipulação de técnicas de “contabilidade criativa” para escamotear os
déficits crescentes, a presidente reeleita tentou um arremedo de ajuste.
Não deu tempo. As manipulações contábeis levaram-na a ser enquadrada em
crimes previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal, punidos com
impeachment.
O vice, Michel Temer, recebeu uma herança de fato maldita. Coube a ele
lançar um importante ajuste nas contas públicas. Começou pela
instituição, por emenda constitucional, de um teto para as despesas
públicas, a fim de impedi-las de crescerem mais que a inflação
anualizada até junho do ano anterior. Assim, interrompe-se a corrida
para o precipício impulsionada por gastos que cresciam mais que o PIB e a
inflação. Algo insustentável. Mas, para que tudo funcione, falta a
reforma da Previdência, ainda a ser aprovada. Sem ela, não haverá teto
que não venha a ser ultrapassado.
Seria ingênuo e crasso erro tentar sair de uma crise de confiança na
gestão fiscal insistindo-se nos equívocos que criaram a desconfiança.
Prova disso é que já há sinais de recuperação, mesmo tênues, na
economia.
extraidaderota2014blogspot
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