Jornalista Andrade Junior

quinta-feira, 23 de março de 2017

BREVÍSSIMA AULA SOBRE CERTA MALANDRAGEM DA ESQUERDA

 Percival Puggina

Leitor envia-me cópia de matéria da Folha de São Paulo. É uma entrevista com certo cavalheiro de nome John Comaroff. Pergunta vai, resposta vem, fica-se sabendo que o referido senhor considera violadoras do princípio da presunção de inocência as ações da Lava Jato contra Lula. Mais, ele condena a divulgação do áudio em que, segundo o repórter, Dilma dava a entender ao ex-presidente que "o nomearia ministro para lhe garantir foro privilegiado". E por aí vai a matéria, com direito a foto, abrindo espaço para o entrevistado afirmar, assim, entre aspas: "Parece que Lula tem recebido um tratamento diferente nos aspectos legais na operação". Em resumo, para o entrevistado, "parece" que Lula é um perseguido político. Impressionante, não é mesmo?

 Vejam só. O sujeito é um antropólogo norte-americano. Não é advogado, nem promotor, nem magistrado, nem delegado de polícia. É tão sem credenciais para opinar sobre o assunto que seu principal título vai para a cabeça da matéria: "Professor em Harvard". Uau! No entanto, uma pesquisada no Google nos conta que ele é professor de Estudos Afro-americanos naquela universidade. Mas, apesar disso, foi escalado pela Folha para opinar sobre assuntos da Lava Jato! Mais uma googlada e ali está: Camaroff é conhecido antropólogo marxista. Voilá!

 Em atenção a quem me enviou a matéria, busquei por ela na própria Folha e vi, então, que o leitor requentara uma publicação do dia 4 de novembro passado. Quando ia descartar o assunto, percebi, porém, que tinha em mãos uma evidência de certa prática corriqueira entre as esquerdas, para a qual convém, sempre que oportuno, chamar a atenção e denunciar. Refiro-me ao mútuo referenciamento como estratégia de apoio e promoção nos círculos esquerdistas. Um autor cita outro, que é referido por um terceiro, que menciona os outros dois e, assim, vão enchendo livros e teses com notas de rodapé e transcrições, dando a entender, pela multiplicação da prática, que todos são sumidades, referências nas respectivas áreas de conhecimento e atuação, e o que dizem está comprovado pela reiteração.

Assim também, não mais que de repente, "intelectuais" se manifestam em apoio a algo ou alguém da parceria, sempre com ganhos cumulativos para todos, que se credenciam como expoentes do saber sem que alguém os reconheça como tal fora do próprio círculo. De regra, nesses casos, os realmente conhecidos são algumas dúzias de artistas populares ou atores globais para cujas opiniões, seriamente, não se pode atribuir qualquer valor. Na mesma batida, se convoca um suposta corte internacional de camaradas para "julgar o impeachment", ou se consulta um conselho de parceiros do Foro de São Paulo sobre a situação de Lula, e assim por diante.

Anote aí, leitor: mútuo referenciamento; esse é o nome da malandragem.























extraídadepuggina.org

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