por Percival Puggina.
Enquanto escrevo estas linhas, tenho duas imagens diante dos olhos. A primeira foi tirada no dia 13 de março deste ano e mostra cem mil pessoas reunidas diante do Congresso Nacional clamando contra a corrupção e pelo impeachment de Dilma Rousseff. No mesmo dia, em todo o país, mais seis milhões participavam de atos idênticos. A superlativa manifestação, ordeira e determinada, viabilizou politicamente a cassação do mandato da presidente por crime de responsabilidade. A outra imagem, tomada dia 16 deste mês, capturou o momento em que cerca de 50 pessoas, entre pugilatos e quebradeiras, invadiam o plenário da Câmara dos Deputados. Chamavam a si mesmos de patriotas. Pediam intervenção militar.
Queriam falar com um general, mas foram se explicar ao delegado. Sérgio Moro passaria muito bem sem os vivas que a ele prestaram. Há que reconhecer-lhes a pertinácia. São poucos, mas pertinazes. Compareceram a todos os atos promovidos em favor do impeachment e contra a corrupção. Em meio às impressionantes e espontâneas marchas e concentrações, poderiam ser contados a dedo. Levavam algum cartaz e pediam intervenção militar. Em todos esses eventos realizados aqui em Porto Alegre estive no carro de som e sei a insistência com que aquela posição era publicamente rejeitada por divergir de nossa mobilização e de nossa causa. Impeachment é uma coisa. Intervenção militar, outra, bem diferente.
Em vão. No próximo ato, indefectivelmente retornavam, esparsos e tenazes. Por outro lado, tornou-se nítido, ao longo dos quase três anos em que as grandes manifestações se repetiram, que o jornalismo militante de certas redações entrava em êxtase ao destacar a presença de intervencionistas nas passeatas. Iam em busca como quem procura agulha no palheiro e se abasteciam ante algum cartaz pedindo intervenção. Serviço de bandeja à causa do governo, destacado no dia seguinte. Davam a essa peça realce que milhares de outras não mereciam. Convinha às esquerdas homogeneizar impeachment e intervenção. Assim, a atabalhoada invasão da Câmara dos Deputados foi, que eu saiba, o primeiro ato solitário promovido pelos intervencionistas. E aconteceu com a dimensão e no modo que assistimos.
O episódio coincide duplamente com as invasões de prédios escolares por adolescentes. Estes, ao se trancafiarem nos respectivos colégios, estampam faixas, nas portas e grades, afirmando um curioso princípio segundo o qual, "a escola é nossa". Sustentam, com isso, que o educandário lhes pertence. Ora, uma coisa é a conduta de adolescentes manipulados, protegidos pelo ECA, invadindo uma escola. E note-se: mesmo nesse caso, para poupar a autoridade da obrigação (jamais cumprida) de retirar a gurizada pelos melhores modos possíveis, os pais deveriam ser convocados a cumprir seu dever paterno recolhendo os rebeldes ao aconchego do lar. Mas não é idêntica a situação dos universitários e dos movimentos sociais em suas invasões, nem dos intervencionistas ao entrarem atropelando tudo e todos no plenário da Câmara. Preferia não ter lido nem ouvido as afirmações de que promoveram uma "ocupação" e de que o "parlamento é a casa do povo". Ficaram muito parecidos, em conteúdo e forma, com os militantes de esquerda. Se têm por donos e não invadiram. Ocuparam...
Por fim, poucos brasileiros, neste momento, discordarão dos intervencionistas quando falam de sua rejeição às tramoias em curso nos bastidores do Congresso. Essa deve ser uma pauta nacional, objeto de pressão popular, por todos os modos ordeiros possíveis. Foi o que abordei em recente artigo (pode ser lido aqui) no qual aponto a existência de uma "Frente Parlamentar do Crime" e a necessidade de que ela, antes da eleição de 2018, esteja integrada à população carcerária brasileira.
extraídadepuggina.org
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