editorial do Estadão
Há 35 partidos políticos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e outros 31 aguardam registro. No início de novembro, o Senado aprovou em primeiro turno a PEC que trata da reforma política, proposta que, entre outras medidas, cria a “cláusula de barreira” para acesso ao Fundo Partidário e ao tempo de propaganda gratuita no rádio e na TV, dois ativos preciosíssimos para o funcionamento das legendas. Pelas novas regras, 14 dos 27 partidos com representação no Congresso não poderiam desenvolver atividade parlamentar caso a PEC seja aprovada em definitivo. A proposta passará por nova votação no Senado antes de seguir para a Câmara dos Deputados.
Pauta urgentíssima da agenda nacional, mas que se arrasta há várias legislaturas sem que haja acordo entre os parlamentares, a reforma política – especificamente a “cláusula de barreira” – tem sucumbido à conveniência míope dos que defendem seus interesses imediatos em arranjos que se sobrepõem à altivez esperada daqueles que falam em nome do interesse público. O País não pode mais conviver com tantos partidos políticos. Não há no espectro ideológico qualquer justificativa para a existência do elevado número de agremiações políticas em atividade no Brasil. Além de dificultar a governabilidade, a grande fragmentação partidária confunde os eleitores e gera entre eles a percepção de que “todos os políticos são iguais”, o que enfraquece o exercício da atividade político-partidária e, consequentemente, a própria democracia.
Mas há quem não veja problema em acrescentar mais um punhado de letras a este já inextricável aglomerado de siglas desprovidas de sentido programático, movidas tão somente pelo interesse no bilionário Fundo Partidário e nas negociatas do tempo de rádio e TV no horário eleitoral gratuito. Dissidentes do PT, junto com membros do PSOL e do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), articulam a criação de um novo partido de esquerda. A ideia já vinha sendo discutida quando a Operação Lava Jato revelou o criminoso esquema lulopetista para se manter no poder e garantir uma aposentadoria tranquila para seus próceres. Durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff, a iniciativa foi posta em banho-maria sob o pretexto de “não dividir as esquerdas” – exatamente o que pretendem fazer agora.
A acachapante derrota nas eleições municipais deste ano tornou clara a derrocada do PT, decretando o fim do seu ciclo político e pondo em marcha novamente o projeto de criação de um novo partido. Caso seja viabilizada a tempo, a sigla já pretende lançar candidatura própria à Presidência nas próximas eleições, em 2018. Os nomes mais cotados para a disputa são os do ex-governador Tarso Genro (PT-RS), do deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) e do líder do MTST, o incendiário Guilherme Boulos, segundo informa a imprensa.
Pouco após a posse do ex-presidente Lula em 2003, o PT havia perdido um naco de seus quadros para a formação do PSOL. Outros tantos acompanhariam a ex-ministra Marina Silva no movimento de fundação da Rede Sustentabilidade, iniciado em 2013. Mais recentemente, vieram as defecções do deputado Alessandro Molon para a própria Rede, e da senadora Marta Suplicy, para o PMDB. Com o partido alvejado em cheio pela Operação Lava Jato e vendo ruir seu projeto de poder pelas urnas após o impeachment de Dilma Rousseff – o que enfraqueceu, inclusive, a tese de “golpe” –, os dissidentes parecem dispostos a abandonar a ideia de “refundação do PT” e partir para a criação de um partido novo, o qual esperam ter o condão de apagar da memória dos brasileiros os desastres causados pelo lulopetismo.
Ao proporem a criação de uma nova legenda para dar nova roupagem marqueteira a velhas ideias, os dissidentes petistas, com auxílio do PSOL e do MTST, optam por um caminho mais fácil do que realizar a profunda contrição que o PT deve a si mesmo, à sua história e, sobretudo, à sociedade brasileira após os gravíssimos erros cometidos pelo partido.
extraídaderota2014blogspot
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