Pedro do Coutto
O assunto primeiro foi levantado por José Casado em seu espaço semanal no mesmo Globo. O codinome era Nelma de Sá Saraca. Para desvendar o código, a Polícia Federal e Márvio dos Anjos recorreram ao Google. Partiram de Saraca como palavra chave. O Google devolveu sassaricando. Márvio dos Anjos, então, atribuiu a origem do mistério, envolvendo compra de joias, ao musical Sassaricando, de 2006, mas provavelmente por ser jovem, não sabia – é natural – que a peça escrita por Sérgio Cabral pai e Rosa Maria, é uma reedição do musical “Eu Quero Sassaricar”, de 1952, no Teatro Recreio, que não existe mais, assinado por Freire Júnior e Luiz Eglezias.
Virgínia Lane era a grande estrela das chamadas revistas musicais. O Recreio ficava no entorno da Praça Tiradentes, junto com o Carlos Gomes e o João Caetano, que resistiram ao tempo. Com base no texto de Freire Júnior e Eglezias, os compositores Luiz Antônio, Zé Maria, Oldemar Magalhães fizeram a marchinha Sassaricando, gravada por Virgínia Lane, um dos grandes sucessos do carnaval de 52. Portanto, 54 anos antes do musical de 2006.
DONA NELMA – De outro lado, a Polícia Federal e Márvio dos Anjos percorreram trilha na busca de Nelma de Sá Saraca. Concluíram que Nelma Sá era uma versão inspirada em Nelma Quadros, secretária do Pasquim, jornal satírico lançado em 1969 que reuniu Millôr Fernandes, Ziraldo, Henfil, Paulo Francis, Sérgio Cabral pai e Tarso de Castro, entre outros. A procura de uma ponte se perde assim no espaço do tempo. O Pasquim desapareceu em 91, portanto quinze anos antes do espetáculo musical de 2006. A viagem ao passado não resolveu o enigma. Só uma coincidência quanto a palavra Saraca talvez possa decifrar. Afinal de contas, coincidências acontecem.
Mas eu falei de viagem ao passado. Até, como lembrei título de uma coluna do maior cronista político brasileiro, sobre quem o jornalista Carlos Marchi escreveu um livro. O Rio de 1952 era muito diferente da cidade de hoje. Podia-se andar pelas ruas e praças sem a atual atmosfera da possibilidade de algo ameaçador. Os teatros de revista exibiam musicais, cheios de canções sambas, marchinhas, valsas. Era uma outra época. Cartazes luminosos de grande porte exibiam as peças.
O RIO MUDOU – Nos palcos, de revistas, destacavam-se Virgínia Lane, Nélia Paula, Joana D’Arc, Zaquia Jorge, fundadora do teatro de Madureira, cuja morte inspirou a bela interpretação de Joel de Almeida do samba Madureira chorou, tocado até hoje.
Mas o segredo das joias foi devassado pela Polícia Federal. Ela descobriu o hot line, nome de uma técnica de comunicação do presente depois de tentar o sassaricando do passado.
O Rio mudou de face e de estilo. Mas a tradicional Confeitaria Colombo, citada na música, atravessa a nuvem do tempo. Contudo, os velhos que sassaricavam à sua porta de cristal, um dos versos dos autores, se foram com o vento. Não foram substituídos nem na Colombo, nem no verso.
extraídadetribunadainternet
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