José Paulo Kupfer:
Está prevista para daqui a menos de uma semana, na quarta-feira, 30, a
divulgação pelo IBGE dos resultados da evolução do PIB, no terceiro
trimestre. No mesmo dia, conforme o calendário de suas reuniões, o
Comitê de Política Monetária (Copom) anunciará a última decisão do ano
para a taxa básica de juros. A convergência de datas é mera
coincidência, mas a correlação entre os eventos nem um pouco.
Entre tantos fatores que fazem a ligação entre uma coisa e outra, a
trajetória da inflação é uma das mais relevantes. Ela mostra um claro
horizonte descendente, como mostrou o IPCA-15 de novembro, o mais baixo
para o mês desde 2007, conhecido na quarta-feira. Se, de um lado, essa
trajetória é determinada, pelo menos em parte, pelo ritmo da atividade
econômica, de outro, é, ainda que também em parte, determinante da
decisão do Copom.
Visto que a economia continua recuando mais do que se imaginava
anteriormente, como devem confirmar os números do IBGE, aumentaram as
chances de que o ciclo de cortes dos juros venha a ser mais longo e
agressivo do que também antes se previa. Com os muitos obstáculos ainda
existentes no caminho da recuperação da economia, as esperanças de uma
retomada econômica em prazo menos distante se concentram agora numa
eventual política de juros mais frouxa.
O comportamento da economia está pregando uma peça nos crentes dos
poderes regeneradores dos índices de confiança. A retomada das
expectativas otimistas, na esteira da chegada do vice Michel Temer à
Presidência, a bordo de um programa econômico neoliberal, estão sofrendo
frustrações. A reversão agora só é esperada para meados de 2017 e,
mesmo assim, em níveis mínimos.
Parece que havia um alçapão depois do fundo do poço. Após recuo de 0,6%
no segundo trimestre do ano, o PIB do terceiro trimestre com quase toda a
certeza apresentará números bem piores do que os registrados no
trimestre anterior. O Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), por
exemplo, trabalha com uma queda trimestral de 0,99%, enquanto o
Itaú-Unibanco estima um recuo de 1,1%, na passagem do segundo para o
terceiro trimestre.
Hipóteses de reversão da recessão nos dois próximos trimestres, até pelo
carregamento estatístico dos períodos anteriores, ficaram
enfraquecidas. Projeções de contração mais suave, fechando 2016 com
recuo em torno de 3%, já deram lugar a reestimativas, que voltaram a
apontar mergulho de 3,5%. Para 2017, as previsões de expansão da
atividade econômica de até 2% já foram deixadas de lado e até o governo,
antes projetando crescimento de 1,6%, passou a prever avanço de 1%, em
linha, por sinal, com a média das estimativas do mercado financeiro.
Mas, para muitos, não será surpresa se o resultado no fim do ano ficar
abaixo de 1%.
Ao anunciar a revisão para baixo das projeções oficiais de crescimento, o
novo secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Fabio
Kanczuk, apontou dois fatores: crédito fraco e queda na confiança depois
da alta pós-impeachment de Dilma Rousseff. O primeiro elemento é um
dado da realidade, reafirmado pelos números de outubro, divulgados ontem
pelo Banco Central, com nova queda no volume de empréstimos.
Expressa as dificuldades de empresas e famílias de se livrarem das
dívidas contraídas antes da contração da atividade, do aumento do
desemprego e da redução, tanto da renda pessoal quanto do lucro dos
negócios.
Já a referência ao vaivém dos índices de confiança é algo bem mais
difuso, atrelado a uma visão da dinâmica econômica que tem sido motivo
de controvérsias mundo afora. Num ambiente, como o que predomina na
economia brasileira, com crise fiscal e seus desestabilizadores
desdobramentos nos estados, endividamento alto e generalizado, amplas
incertezas políticas oriundas da Lava-Jato e volatilidade nos mercados
globais depois da eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos,
concentrar nos índices de confiança as expectativas de retomada do
crescimento talvez seja exigir demais deles.
extraídaderota2014blogspot
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