Jornalista Andrade Junior

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

"A perna longa da mentira",

 editorial da Folha de São Paulo

Em 1938, o cineasta Orson Welles causou algumas horas de pânico ao fazer crer a milhares de ouvintes de rádio que o planeta estava sob ataque de marcianos. Hoje talvez provocasse um estrago muito maior caso empregasse seu talento nas mídias sociais, onde notícias falsas enganam milhões diariamente em todo o mundo.

Nos EUA, o debate sobre os efeitos nocivos de informações inverídicas ganhou força com a recente eleição que deu vitória a Donald Trump —em que os norte-americanos se informaram maciçamente pelas redes sociais.

Levantamentos mostram que o presidente eleito foi o maior beneficiado pela leva de informações fabricadas, como a de que o papa Francisco o apoiava. Ainda que seja quase impossível medir o impacto do fenômeno na definição do resultado eleitoral, a gravidade do problema não se apaga.

No Brasil, a prática também preocupa. Como nos Estados Unidos, trata-se de um recurso incorporado à prática política, à esquerda e à direita. Dificilmente um usuário de redes sociais deixou de ler que um filho do ex-presidente Lula (PT) é o dono do frigorífico Friboi ou que o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) foi citado na Lava Jato, informações tão enganosas quanto populares.

Muitas vezes, veículos da imprensa profissional precisam desmentir as mentiras, tão depressa elas se espalham. Foi o caso, em setembro, da falsa frase "Não temos prova, mas temos convicção", atribuída a um procurador da República sobre Lula. A elucubração chegou a tornar-se argumento da defesa do ex-presidente.

Em Mianmar, país em lento processo de democratização, violentas ondas de ataque contra muçulmanos têm sido atribuídas à circulação de notícias fictícias.

Os grandes oligopólios da internet fogem como o diabo da cruz da responsabilização pela montanha de barbaridades a que dão vazão. Não pecam apenas pela passividade, contudo. Associam-se, como fez o conglomerado Facebook, às estratégias liberticidas e censórias de ditaduras como a chinesa.

Nesse quadro de ameaças a pilares da arquitetura democrática do Ocidente, o jornalismo profissional, compromissado com os fatos e a ampla circulação das ideias, torna-se ainda mais necessário.
























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