por Felippe Hermes Felippe Hermes
A manchete é clara:
Michel Temer pretende gastar R$ 30 mil em um jantar no Palácio da
Alvorada para alguns poucos senadores com intuito de convencê-los de que
é preciso fazer o governo gastar menos.
Talvez
você considere isso uma incoerência das grandes, o que de fato é. Mas
espere mais um pouco e, assim que a indignação baixar, releia a
manchete. Não é difícil perceber um fato novo nisso tudo. Pela primeira
vez em muito tempo, cada gasto público abusivo, por menos impactante que
seja no orçamento, parece ser plenamente passível de críticas.
Seja
você contra ou a favor da aprovação da PEC 241/55, é inegável que sua
simples proposição tenha colaborado para colocar em pauta o orçamento do
governo e a forma como ele se distribui.
Durante
anos, a única limitação do orçamento público foi a própria vontade
política por parte do governo, ou as pressões políticas e sociais por
parte da sociedade e de grupos de interesse.
Nunca
coube ao governo lidar com dilemas, comuns a famílias e empresas, de
alocação de recursos escassos. Não foi necessário, por exemplo, ter de
escolher entre privilegiar o judiciário ou a educação, a saúde ou os
parlamentares. Bastou aumentar os gastos em todas essas áreas e, ao
final de tudo, jogar a conta para a população. O resultado disso tudo é
evidente: entre 1991 e 2015, o gasto do governo federal saltou de 10,1%
para 19,5% do PIB.
Nesta
onda de aumento de despesas, nosso judiciário tornou-se o mais caro do
planeta, custando 1,3% do PIB, contra 0,2% de países como Chile ou
Argentina. Atingimos a nada honrosa posição de segundo congresso mais
caro do planeta, perdendo apenas para os Estados Unidos. Nossos
parlamentares custam por ano R$ 2 milhões cada um.
Ao
criar uma regra sobre como o gasto deve crescer, porém, o governo passa
a agir como qualquer família brasileira, onde cada centavo a mais gasto
em determinada área é um centavo a menos para gastar em outro lugar.
Quer
um exemplo? Por ano, o governo gasta R$ 4 milhões para manter os
jardins do Palácio da Alvorada, a residência oficial do Presidente da
República. Na ponta do lápis, este gasto poderia manter durante um mês,
22.727 famílias beneficiárias do Bolsa Família.
Daqui
em diante, lutar por mais recursos para áreas prioritárias deve ser
essencialmente lutar contra abusos, privilégios e gastos
injustificáveis. Assim, listamos abaixo 15 exemplos destes abusos e
deixamos claro como a tarefa que vem pela frente não será nada fácil.
1. O salário de R$ 22 mil mensais pagos ao gestor de xerox da Câmara.
A
discussão entre o presidente do Senado e o Judiciário ganhou um novo
capítulo há poucos dias, quando Renan Calheiros decidiu constituir uma
comissão para investigar os supersalários da administração pública.
Renan,
que é réu em 9 processos no STF, iniciou a adoção de uma série de
medidas, após o Supremo Tribunal Federal ter autorizado uma ação da
Polícia Federal para investigar membros da Polícia Legislativa. Além de
investigar os supersalários, Renan prevê desengavetar uma alteração na
lei de abuso de autoridade, além de combater salários acima do teto.
A
resposta de autoridades do Judiciário porém, foi lembrar que a comissão
precisa avaliar os casos de abusos em todos os poderes, e não apenas em
um deles.
Para
citar um exemplo, Roberto Veloso, o presidente da Associação Nacional
de Juízes, relembrou o caso do operador de xerox da Câmara que receberia mensalmente R$ 22 mil, entre salários e indenizações.
2. R$ 1 bilhão em prejuízos causados pela má gestão de medicamentos no SUS.
A
falta de medicamentos em postos de saúde foi pauta em diversas
campanhas Brasil afora. Para onde quer que se olhe, as reclamações
parecem as mesmas: faltam medicamentos.
No entanto, uma investigação do Conselho Federal de Farmácia descobriu que R$ 1 em cada R$ 5 gastos
pelo poder público na compra de medicamentos são jogados na lata do
lixo, uma vez que os medicamentos vencem antes de ser utilizados, ou
muitas vezes ficam retidos em estoques do próprio Ministério da Saúde.
Na soma dos valores despendidos pelo SUS com medicamentos, a estimativa seria de um prejuízo anual em torno de R$ 1 bilhão.
O valor corresponde, por exemplo, a 1/4 do que o país investe em novos
hospitais, aquisições de equipamentos e outros investimentos em saúde.
3. Os R$ 198 mil que o Ministério da Educação pretendia gastar com lanches para o ministro em voos oficiais.
Os
R$ 30,9 mil mensais recebidos como salário são suficientes para colocar
o atual ministro da educação, Mendonça Filho, entre os 0,5% mais ricos
do país. Isso não significa, porém, que o ministro possa arcar com
certos custos cotidianos, como a própria alimentação.
Além
do privilégio de utilizar aviões da Força Aérea para se locomover, o
Ministério da Educação lançou um edital no começo da semana para
garantir o conforto do ministro e de seus convidados a bordo das
aeronaves. Segundo a revista Época, o contrato de licitação previa que o
fornecedor deveria garantir serviço para até 10 pessoas.
Em
muitos casos, o ministro ainda recebe as diárias do Ministério,
destinadas a custear sua viagem. Desde junho, Mendonça Filho já recebeu
R$ 10 mil em diárias.
Graças à repercussão do caso, o ministro ordenou que o edital fosse cancelado.
4. Os desembargadores de Minas Gerais que receberão R$ 1 bilhão em auxílio-moradia.
O
parcelamento de salários de servidores ainda é uma realidade para os
mais de 200 mil funcionários públicos de Minas Gerais. Em alguns meses,
os salários demoram até 20 dias para cair por completo na conta.
Contando
com um orçamento próprio, graças à independência dos três poderes,
judiciário e legislativo acabam por escapar das medidas mais drásticas. A
exemplo do que ocorre no Rio Grande do Sul, onde apenas os funcionários
do executivo (sendo 2 em cada 3 deles professores ou policiais) estão
sujeitos ao parcelamento, em Minas a realidade é bastante semelhante.
Em
meio a esta crise sem precedentes nas finanças estaduais, o Ministério
Público decidiu pagar os valores devidos aos desembargadores em
auxílio-moradia de 1994 até 2000, exatamente em 2016. Valor total da conta para ser mais preciso: R$ 946.483.179,57.
5. O juiz que recebeu R$ 600 mil em um único mês.
A
votação para reduzir em até 30% os salários do funcionalismo público
carioca ainda deve passar pela assembléia legislativa, em um pacote de
medidas que inclui ainda cortes de gastos como o fechamento de
restaurantes populares, aumentos de impostos e cortes de investimentos.
Longe
da realidade que aflige o executivo fluminense, que já necessitou de
apoio federal da ordem de R$ 2,9 bilhões para manter as contas em dia, o
judiciário segue sua rotina orçamentária própria. Segundo análise feita por O Globo,
894 – ou cerca de 90% – juízes e desembargadores do estado do Rio de
Janeiro receberam acima do teto constitucional no início deste ano.
Destes, 34 receberam mais de R$ 80 mil.
No início de 2010, o Rio ficou conhecido por um outro recorde ao remunerar um
juiz em R$ 642.962,66 a título de salários e indenizações. Em valores
atualizados, a quantia se aproxima de R$ 1 milhão, em um único mês.
6. Os R$ 40 milhões gastos em publicidade para explicar a necessidade de cortar gastos.
Os
cortes e aumentos de impostos realizados ao longo do ano de 2015 ainda
podem ser sentidos enquanto nos aproximamos do final de 2016. Em nenhum
outro ano, por exemplo, a educação perdeu tantos recursos. Foram pouco
mais de R$ 10,5 bilhões. Outros R$ 4,2 bilhões foram cortados na saúde.
Programas como o Minha Casa Minha Vida, o PAC do Saneamento, o Pronatec e até mesmo o Bolsa Família sofreram cortes.
Para anunciar tudo isso, porém, o governo decidiu lançar uma campanha explicando seus motivos para realizar um ajuste. Custo? R$ 40 milhões.
7. O Tribunal de Justiça do Paraná que gasta R$ 2,8 milhões por ano com garçons.
Não
apenas de remunerações para juízes e desembargadores são feitos os
gastos dos tribunais de justiça brasileiros. Manter a estrutura do
judiciário como um todo custa por volta de 1,3% do PIB, ou R$ 68
bilhões. Quando incluído o Ministério Público, a quantia pode chegar aos
2,1%, ou pouco mais de R$ 100 bilhões.
Com
um orçamento não limitado por qualquer regra, os tribunais de justiça
se permitem algumas regalias. Apesar de bem mais modestos do que os
salários concedidos aos garçons do Senado, que chegam a ganhar R$ 15 mil
mensais, os 104 garçons contratados pelo TJ-PR somam uma folha de
pagamento mensal de R$ 235.743,12 mensais. Ao longo de 3 anos, a
expectativa é de que o custo chegue aos R$ 10 milhões.
8. A juíza ligada a traficantes e casos de corrupção que recebeu como punição uma aposentadoria compulsória de R$ 25.438,40.
Punir
políticos envolvidos em caso de corrupção é uma atitude rara no Brasil.
Dentre os mais de 500 deputados julgados pelo STF desde 1996, apenas 16
foram condenados e o primeiro a ser preso só foi parar na cadeia em
2013.
No
judiciário, porém, sob o pretexto de impedir que falsas acusações
possam reduzir a autonomia da justiça e colocar em risco o próprio
exercício da profissão, as punições costumam ser consideravelmente mais
brandas. Com raras exceções, a pena cabível a juízes flagrados
praticando atos de corrupção resume-se à aposentadoria compulsória, como
foi o caso de uma juíza no Estado da Bahia.
Em
2001, a juíza teria votado favoravelmente para soltar um traficante
preso em flagrante em uma operação da PF. Segundo apurou o ministério
público, a relação entre os dois evoluiu ao longo dos anos.
Após a investigação da
PF, o caso foi a julgamento, e arrastou-se por anos, até chegar-se à
conclusão de que a postura da juíza de fato não condizia com o que se
espera de um magistrado. Punição: aposentadoria compulsória com salário integral.
9. Os 81 assessores a que Collor tem direito como Senador.
Um
automóvel novo a cada dois anos, ternos, celulares, alimentação,
moradia e gasolina à vontade. A lista de mimos aos quais os senadores
têm direito, independentemente do seu salário, se estende até onde a
imaginação dos próprios alcança.
Manter
o Senado Federal, com seus 81 membros, custa anualmente R$ 2,7 bilhões,
ou R$ 33 milhões para cada senador. O orçamento equivale ao gasto dos
ministérios do Esporte e Cultura somados.
Dentre os gastos comuns, a remuneração de assessores encabeça a lista. Fernando Collor (PTB – AL), por exemplo, possui direito a 81 assessores. O senador Helio José (PMDB – DF) emprega 91. Na contramão, o senador Reguffe (Distrito Federal – sem partido), com 9 assessores.
Garantindo um plano de saúde integral a seus membros, o Senado Federal também chamou a atenção recentemente por gastar R$ 5 milhões com
o Hospital Sírio-Libanês, um dos principais hospitais privados do país.
O plano de saúde do Senado ainda é considerado o mais caro do país.
10. A bolsa alimentação de R$ 3.095,86 recebidos por cada um dos vereadores do Recife.
Ser
vereador em uma grande capital brasileira é o suficiente para
colocar-lhe entre o 1% de maior renda no país. Em Recife, por exemplo, o
salário bruto é de R$ 15 mil. O valor, no entanto, não inclui certos
gastos considerados essenciais aos vereadores. Em junho deste ano, cada
um dos 39 membros da câmara municipal recifense deu a si mesmo um vale
refeição superior a R$ 3 mil, valor correspondente a mais do que o dobro do salário médio dos recifenses.
11. Os R$ 500 milhões que o governo Temer gastará para excluir o software livre dos computadores do governo.
Deixar
de utilizar softwares de livre acesso deve ser uma das estratégias do
governo Temer para, segundo o próprio, reduzir o risco de que os dados
do governo possam ser hackeados.
Na prática, adotar o pacote Office e outros programas da Microsoft em todos os computadores oficiais poderá ter um impacto de R$ 500 milhões em gastos com licenças e outros custos.
12. Os R$ 620 mil na compra de veículos de luxo para os ministros do Supremo.
Garantir
o bom funcionamento da Suprema Corte brasileira tem seu custo. Em 2010,
por exemplo, o STF comprou cerca 33 apoios para os pés ao singelo custo de R$ 10,2 mil. Em outras compras polêmicas, foram R$ 45 mil em copos descartáveis e R$ 4,9 mil por cada uma das poltronas usadas na corte.
Para exercerem seus cargos, cada um dos ministros deve ter à sua disposição um veículo Hyundai Azera, ao custo de R$ 155 mil cada.
13. Os R$ 100 milhões gastos com pensões e benefícios a ex-governadores nos últimos 3 anos
A
reforma da previdência ainda está parada no Congresso, mas a certeza de
que o governo tentará impor uma mudança da idade mínima para 65 anos já
preocupa as partes envolvidas. No entanto, nada disso afeta uma classe
muito especial de cidadãos: os 104 ex-governadores e 53 viúvas que têm
direito a receber salário integral – múltiplas vezes o teto do INSS –
por terem passado 4 ou 8 anos no cargo, responsáveis por um gasto que
alcançou R$ 100 milhões nos últimos 3 anos.
A
exemplo da Presidência da República, que gasta R$ 3 milhões anuais com
ex-presidentes, governos como o do Maranhão estendem aos seus
ex-governadores direito à pensão, além de outros benefícios como um
veículo oficial e assessores.
14. A primeira-dama de Goiás que se aposentou por trabalho voluntário.
Os
trabalhos desenvolvidos por primeiras-damas voltaram à pauta após a
decisão do governo federal de nomear Marcela Temer para um cargo no
programa Criança Feliz.
Em
Goiás, a ex-primeira dama Valéria Perillo, esposa do tucano Marconi
Perillo, aposentou-se recentemente pelo Tribunal de Contas do Estado.
Para garantir o tempo necessário para a aposentadoria, porém, os anos à
frente da OVG (Organizações Voluntárias de Goiás) acabaram contando, ainda que pelo trabalho Valéria não tenha recebido remuneração alguma e, portanto, não tenha contribuído para a previdência.
15. Os R$ 24 milhões gastos no cartão corporativo da presidência.
Nem
bem completou seus 6 primeiros meses à frente do governo, os primeiros
números da administração Temer começam a sair e, com eles, a inevitável
comparação com governos anteriores.
Conforme divulgou O Globo, em quatro meses de mandato, Temer havia gastado mais do que sua antecessora em um semestre.
Os
gastos com cartão corporativo são velhos conhecidos dos brasileiros. Em
2008, Foi publicada uma série de denúncias sobre mau uso dos recursos,
que em tese deveriam custear gastos essenciais aos ministros e à
presidência, sem necessidade de licitação
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