J.R. Guzzo: Publicado na edição impressa de VEJA
A visão política que venceu junto com Trump também acredita no “Estado forte”, e na sua intervenção bruta para resolver tudo o que é difícil. Esqueçam a gritaria de campanha contra o tamanho “do governo de Washington”, ou a intromissão do “Estado” na vida do cidadão. Na vida real, as propostas feitas pelo vencedor estão sempre chamando a autoridade pública para resolver as coisas. Há problemas com a travessia ilegal da fronteira mexicana? O governo tem de construir uma muralha na fronteira. Há problemas com o terrorismo originado em países muçulmanos? O governo tem de proibir a entrada de muçulmanos nos Estados Unidos. Americanos estão perdendo empregos por causa da importação de produtos estrangeiros? O governo tem de bloquear as importações – e por aí se vai. Outro artigo de fé na ideologia de Trump é a hostilidade à imigração e aos imigrantes – vistos como uma ameaça ao emprego dos cidadãos americanos e aos valores maiores da sociedade. É gente que aceita trabalhar por um salário mais baixo; não se pode admitir que venham disputar empregos com o cidadão nacional.
O fechamento do mercado de trabalho é, na verdade, apenas um dos elementos de todo um pensamento protecionista, que não gosta do livre-comércio, da concorrência nem da liberdade econômica em geral. Trump prega a revisão de tratados e de práticas comerciais que abrem o mercado americano para produtos estrangeiros. Quer cortar importações. Quer proteger as empresas americanas criando dificuldades para as empresas de fora competirem com elas. Quer criar, manter ou desenvolver o “fornecedor nacional”. Na cabeça de Trump e de seu eleitorado, o mundo exterior não é visto como um possível fornecedor de novas tecnologias nem de produtos melhores, mais eficazes ou mais baratos – é visto como uma ameaça. O estrangeiro, segundo essa maneira de encarar o mundo, está sempre se organizando para prejudicar os interesses americanos. Trump não gosta da independência do Banco Central, que considera manipulado pelos grandes interesses financeiros. Não gosta de cultura – é coisa da “elite”. Não gosta de liberdade.
Donald Trump é apontado hoje como o maior perigo que a “direita” coloca para o mundo. Muito interessante, porque nada é tão parecido com o novo presidente americano quanto Lula e a esquerda brasileira. Trump e Lula – tudo a ver.
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