MARIANA BARBOSA - Folha de São Paulo
Nos próximos quatro anos, o setor industrial brasileiro precisará de 13 milhões de novos profissionais. A maior demanda virá da construção civil (3,8 milhões de vagas até 2020), seguida pelas áreas de ambiente e produção, metalmecânica, alimentos, vestuário e calçados.
Os números fazem parte da última edição do Mapa do Trabalho Industrial (2017-2020), elaborado pelo Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e divulgado neste mês, durante a Olimpíada do Conhecimento, realizada entre os dias 10 e 13 de novembro.
Os dados incluem tanto novos postos de trabalho quanto vagas já preenchidas por profissionais que vão ter que se requalificar para não perder seus empregos. Os novos postos correspondem a apenas 28% do total.
"A indústria está se automatizando e é preciso ajustar a formação profissional às mudanças tecnológicas", explica o diretor geral do Senai, Rafael Lucchesi.
Para Manuel Thedim, diretor do IETS (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade), o fato de a demanda estar mais concentrada na requalificação do que na criação de novas vagas é sinal de que o mercado de trabalho nessa área está passando por uma transformação.
"Quem quiser se inserir no setor industrial terá que se concentrar cada vez mais em gestão, inovação e desenvolvimento de novas tecnologias do que na fabricação em si. A fabricação é o robô que vai fazer", afirma Thedim.
De acordo com o estudo do Senai, apenas 4,8% das vagas serão preenchidas por profissionais de nível superior. Já a demanda por funcionários com formação de nível técnico será de 1,8 milhão. A maior parte dos postos (55%) será de requalificação com cursos de aperfeiçoamento curtos, com menos de 200 horas de duração.
No total, cerca de 3,35 milhões de profissionais -sobretudo das áreas de alimentos e metalmecânica- precisarão voltar aos estudos.
PROJEÇÃO
O Mapa do Trabalho do Senai é realizado a cada quatro anos. Esta última edição se baseia em uma projeção de crescimento do PIB da ordem de 1,2% para o ano que vem -e de 2,5%, 2,8% e 3,1% para os anos seguintes. Porém, a demanda pode ser menor caso o desempenho da economia fique aquém das previsões da entidade.
"Tenho que olhar cinco anos para frente. A partir desse observatório, ajustamos a sala de aula para a realidade", afirma Lucchesi.
O Brasil oferece 1,9 milhão de vagas de ensino técnico, distribuídos na rede de escolas técnicas federais, no Senai, na rede Paula Souza e em cursos privados. O número é o dobro do que era oferecido em 2008, mas ainda está aquém da demanda. O dado não considera cursos curtos de formação. O Senai oferece 3,5 milhões de vagas por ano -350 mil são de nível médio.
TÉCNICOS
Ao terminar o ensino médio, muitos jovens sonham em ingressar na faculdade para conseguir melhores salários. Mas nem sempre o caminho para uma boa remuneração começa na graduação.
Algumas profissões de nível técnico oferecem salários mais saltos -é o caso do técnico em mineração, por exemplo, cujo salário médio em início de carreira é similar ao de um psicólogo (na faixa de R$ 2.100), mas que, após dez anos de experiência, chega a ser 82% maior.
Os dados fazem parte de um levantamento feito pelo Senai com base em números da Rais (Relação Anual de Informações Sociais), do Ministério do Trabalho.
Para o diretor da empresa de recrutamento Hays, Raphael Falcão, além do salário, a empregabilidade de quem faz um curso profissionalizante é maior do que a de alguém que cursa uma faculdade sem expressão.
"Há uma cultura de busca por cursos superiores que não agregam valor. Então a pessoa cai em um limbo onde não há muitas posições disponíveis. Já um bom técnico, com conhecimento atualizado, estaria empregado com salário mais competitivo", diz.
Vanderson Souza, 25, fez um curso técnico de eletroeletrônica por dois anos, depois de concluir o ensino médio em uma escola pública de São Paulo. Começou a estagiar no meio do curso e, assim que se formou, conseguiu um emprego em manutenção de equipamentos.
"O ensino técnico é ótimo para ajudar a escolher uma profissão", acredita. "Ainda quero fazer faculdade de engenharia. Mas eu precisava de uma base para me sentir mais preparado."
TENDÊNCIA MUNDIAL
Segundo dados oficiais, apenas 11% dos jovens entre 15 e 17 anos no Brasil possuem formação técnica. Na Alemanha, que têm uma das taxas mais baixas de desemprego entre jovens, a educação profissionalizante atinge 51,5% dessa faixa da população. Na Espanha, o valor chega a 44,6%; enquanto no Reino Unido é de 32,1%.
O número de jovens brasileiros que frequentam a faculdade é de 17% -nas economias desenvolvidas, esse número é cerca de três maior. "As opções não são mutuamente excludentes. O ensino profissional permite ao jovem ingressar mais cedo no mercado de trabalho. Depois, nada impede que ele vá atrás dos estudos", diz o diretor do Senai, Rafael Lucchesi.
O diretor da Hays, empresa que tem operação em 33 países, comenta que na Europa o profissional de nível técnico chega a ser mais requisitado e respeitado. "A classe média nos países europeus é composta por bons técnicos. A exceção é que vai fazer curso superior", diz Falcão.
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