João Domingos: O Estado de São Paulo
Não é exagero dizer hoje que em breve o PMDB voltará a ser um coadjuvante da política brasileira, apesar de ocupar a Presidência com Michel Temer e de ter eleito o maior número de prefeitos em outubro. Voltará assim o partido ao papel que exerce desde 1981, quando foi obrigado a mudar o nome de MDB para PMDB, e deixou de ser a única legenda de oposição ao governo militar. Nem quando ocupou a Presidência, com José Sarney (1985/1990), o PMDB foi o protagonista. Sarney vinha da Arena e do PDS, partidos que sustentaram o regime militar, e virara a casaca para ser o vice de Tancredo Neves. Com a morte de Tancredo, antes mesmo da posse, quem passou a mandar de fato no governo foi Ulysses Guimarães, não o conjunto do PMDB.
Isso aconteceu porque o PMDB sempre foi um amontoado de ideias e interesses, sem nenhuma amarração orgânica. O domínio partidário costuma ser exercido por grupos que se formam em torno de quem está no poder e a este ajudam a dar sustentação. Foi assim nos governos de Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff. A chegada de Temer à Presidência foi só um atalho na História. Desde 1994, última vez que tentou brigar pela Presidência da República, com Orestes Quércia, o PMDB deixou de disputar o poder central pelo voto direto. No governo Dilma acomodou-se na vice e aguardou sossegado pelo desastre que foi o governo da titular.
O PMDB deverá voltar a ser coadjuvante por uma série de razões. Uma delas, a mais evidente, pode ser atribuída à Operação Lava Jato. Praticamente sem exceção, os principais nomes do partido ou estão sendo investigados, ou estão presos, ou encontram-se sob risco de irem para a cadeia. O presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), coleciona uma dúzia de pedidos de investigação. O presidente do partido, Romero Jucá (RR), também é citado pela Lava Jato, assim como ministros próximos a Temer. O próprio presidente corre lá seus riscos.
A outra razão que possibilita levantar as dificuldades de manutenção do protagonismo do PMDB deve-se à falta de quadros do partido que possam ser considerados competitivos numa disputa presidencial. No auge de sua rápida ascensão, o ex-deputado Eduardo Cunha (RJ) planejava usar a presidência da Câmara para se tornar candidato a presidente da República. Depois de ter o mandato cassado pela Câmara, foi parar na cadeia. Há uns dois, três anos, iniciaram-se especulações sobre a possibilidade de o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral ser candidato a presidente, até mesmo com o apoio do PT de Lula. Cabral está preso. O ainda prefeito do Rio, Eduardo Paes, afilhado de Cabral, teve o nome lembrado para uma futura disputa. Seu candidato perdeu a eleição para a Prefeitura do Rio e o nome dele já nem é citado mais. Sem falar que Paes se fez no PSDB. Mudou para o PMDB por puro oportunismo. Assim como se aproximou de Lula e de Dilma, dos quais era adversário, apenas para ganhar o apoio do PT.
Alguém pode argumentar que o presidente Michel Temer pode se tornar competitivo e pode tentar a reeleição com chances de sucesso. É verdade. Mas nos dois anos de governo que restam a Temer ele terá de administrar tantos problemas, tantas crises, que é difícil dizer se não estará aos pedaços até lá.
Primeiramente, terá de escapar do processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que pede a cassação da chapa Dilma/Temer. Depois, resolver de forma convincente os problemas econômicos do País, reduzir o desemprego, baixar os juros, segurar a inflação e pôr o Brasil no rumo do crescimento, além de passar com poucos arranhões pela Lava Jato.
Não é pouca coisa.
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