EDITORIAL ESTADÃO
Essenciais
para a retomada do crescimento e para a consolidação de uma nova fase de
expansão econômica, os grandes investimentos em infraestrutura poderão
recomeçar no próximo ano, com o novo esquema de parceria entre o setor
público e o capital privado. Se a iniciativa tiver o sucesso previsto
pelo governo, o Brasil será beneficiado por importantes ganhos de
produtividade, custos serão cortados e a produção nacional se tornará
mais competitiva em todos os mercados. Mais postos de trabalho serão
abertos nos próximos anos e haverá mais empregos de qualidade.
A
ideia é atrair investidores com um programa realista, sem limitação
artificial de tarifas, mas com maior participação privada no
financiamento dos projetos. Uma lista inicial de 34 projetos – de
rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, eletricidade, petróleo e
mineração – foi apresentada pelo presidente Michel Temer na terça-feira
passada, numa cerimônia de lançamento do programa de concessões.
O
governo se dispõe a participar dos financiamentos com R$ 30 bilhões. O
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deverá
fornecer R$ 18 bilhões. Outros R$ 12 bilhões virão do Fundo de
Investimento do FGTS, por intermédio da Caixa. Essas verbas serão usadas
na compra de até 80% das debêntures emitidas pelas empresas vencedoras
das licitações. Essas empresas deverão providenciar os outros 20%. Ainda
haverá subsídios, mas a parcela subsidiada poderá variar de acordo com o
tipo de projeto.
O envolvimento dos grupos privados nesse novo
esquema dependerá, naturalmente, das condições do mercado de
financiamentos e da segurança de rentabilidade. A ação do governo poderá
influenciar os dois fatores. O acesso ao mercado poderá tornar-se mais
fácil, nos próximos meses, se a nova política econômica restabelecer a
credibilidade da administração federal e, por extensão, de seus mais
ambiciosos programas. Em segundo lugar, critérios mais adequados de
parceria deverão tornar os projetos mais atrativos para o setor privado.
O governo anterior se dispôs a assumir grande parte do financiamento
das obras, mas seu excessivo intervencionismo tornou os projetos menos
interessantes para as empresas.
O governo do presidente Michel
Temer deve ter o cuidado de evitar esse erro. “Assegurar a estabilidade e
a segurança jurídica, com a garantia de mínima intervenção nos negócios
e investimentos”, é um dos objetivos indicados na medida provisória que
criou o Programa de Parcerias de Investimentos, transformada em lei em
vigor desde terça-feira. Ao anunciar os 34 projetos e as linhas
principais da política, o presidente cuidou de eliminar preocupações
quanto aos critérios de fixação de tarifas. “Não haverá substituição da
aritmética pela ideologia”, prometeu. A definição de tarifas,
acrescentou, será baseada em dados da realidade, “em estudos técnicos”.
Os
bancos estatais deverão vender as debêntures somente quando os
empreendimentos começarem a dar lucro. Fundos de pensão, espera-se,
deverão estar entre os principais compradores. O Banco do Brasil será o
principal fiador, garantindo o pagamento dos juros das debêntures entre o
começo da operação e o início do recebimento de receitas pelas
concessionárias. A função de fiador deverá ser complementada por um
parceiro privado.
Com cautela, o presidente e seus ministros
evitaram antecipar valores dos investimentos previstos. Mas a
programação financeira do próximo ano inclui uma receita de R$ 24
bilhões proveniente das concessões. Sem esse dinheiro, o governo terá de
encontrar uma alternativa para manter o déficit primário (sem a despesa
de juros) dentro do limite previsto de R$ 139 bilhões. A curto prazo, o
programa de licitações de infraestrutura deve ser, portanto, um
componente da política de ajuste das contas públicas.
Mas o
ajuste só será duradouro se se tornar independente de recursos
excepcionais, como esses. A importância efetiva do programa de
infraestrutura é outra: recompor e ampliar condições essenciais tanto à
atividade produtiva como ao bem-estar do brasileiro.
extraídadeavarandablogspot




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