editorial do Estadão
A prisão do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, ainda que apenas por
algumas horas, significa que o escândalo da Petrobrás alcançará mais
gente e gente muito mais graúda do que os notórios operadores do PT que
hoje amargam a prisão. Já se sabia que o propinoduto que ligou a máquina
do Estado aos cofres do PT era o pilar de um método de governo, sendo o
ex-presidente Lula o “chefe supremo” do esquema de corrupção, como
autoridades já denunciaram. Mas as suspeitas que recaem sobre Mantega,
se comprovadas, mostrariam a extensão do contágio por grande parte do
primeiro escalão da administração, passando o próprio governo a ser
visto como uma organização criminosa.
Mais longevo ministro da Fazenda da história brasileira, Mantega
tornou-se, ao lado da presidente cassada Dilma Rousseff, o grande
símbolo do jeito petista de governar. Enquanto Dilma, em seu dialeto
peculiar, agredia a realidade de sua desastrosa administração com frases
desconexas, Mantega, sempre com ar professoral, tratava de insultar a
inteligência alheia com dados sem sustentação e retórica vazia para
comprovar o acerto da famigerada “nova matriz econômica” – aquela que
quase quebrou o Brasil. O ministro da Fazenda era a face mais conhecida
da impostura do PT na condução da economia, um obediente executor das
fantasias nacional-desenvolvimentistas de Dilma. Nada, porém, indicava
que ele tivesse feito uso de seu cargo e de seu poder para fazer algo
além de destruir as finanças do País.
Tudo isso mudou ontem. O juiz Sergio Moro aceitou pedido do Ministério
Público Federal para que Mantega fosse preso, sob acusação de que o
petista, em novembro de 2012, quando era ministro, solicitou ao
empresário Eike Batista recursos para o pagamento de dívidas de campanha
do PT. A informação foi prestada pelo próprio Eike em depoimento ao
Ministério Público em maio passado.
Em 2012, o Grupo OSX, de Eike, integrava um consórcio que havia obtido
um contrato de US$ 922 milhões com a Petrobrás para a construção de
plataformas. Suspeita-se de que Mantega tenha pedido a propina como
compensação por esse contrato. Sem experiência na área, o consórcio
contemplado não conseguiu entregar as plataformas.
Em seu depoimento, Eike disse que Mantega solicitou R$ 5 milhões para o
PT. O dinheiro, depositado no exterior, foi entregue por meio de falsa
prestação de serviços pela empresa de João Santana, o marqueteiro do PT.
Para Eike, não estava claro que se tratava de uma contrapartida por seu
contrato com a Petrobrás, mas não é preciso grande perspicácia para
desconfiar dos reais motivos de Mantega – afinal, como disse Eike, “o
ministro da Fazenda me pediu, o que é que você faz?”. Além de ministro
da Fazenda, Mantega era presidente do Conselho de Administração da
Petrobrás.
Eike e Mantega, segundo o depoimento do empresário, trataram a propina
como “doação eleitoral”. Em seu despacho, Moro lembra que não cabe a um
ministro de Estado “solicitar doações eleitorais ao partido do governo,
ainda mais doações sub-reptícias”, feitas “através de contas secretas
mantidas no exterior e com simulação de contratos de prestação de
serviço, meio bem mais sofisticado do que o usual mesmo para uma doação
eleitoral não contabilizada”.
Para Moro, está clara a “similaridade com o modus operandi verificado no
esquema criminoso da Petrobrás”. Eis o que realmente importa a essa
altura. São muitas as evidências de que o grande sistema de corrupção
implantado pelos petistas pode ter tido entre seus operadores o mais
importante ministro de Estado tanto de Lula como de Dilma. Terá sobrado
um canto que seja de seus governos que não tenha sido conspurcado?
É claro que os petistas, sem ter como defender o ex-ministro, apelam à
já tradicional vitimização, pois Mantega foi detido quando estava num
hospital acompanhando a mulher, que se tratava. Ao decidir revogar a
prisão – pedida porque, segundo os procuradores, havia risco de
destruição de provas –, Moro disse que ele, os policiais e o Ministério
Público desconheciam a situação familiar do ex-ministro. Mas Lula,
sempre ele, já andou dizendo que a prisão de Mantega prova que “qualquer
tese de humanitarismo foi jogada no lixo”. Sobre a grave acusação que
pesa sobre o ex-ministro, nem um pio.
extraídaderota2014blogspot
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