Aécio Neves: Folha de São Paulo
Ao apresentar um plano de reforma do ensino médio, o governo acerta
diante da gravidade da crise da educação no país. A iniciativa ataca um
dos pontos nevrálgicos do sistema educacional. Se a educação brasileira,
de modo geral, clama por uma transformação capaz de alinhá-la às
exigências do século 21, nada é mais urgente do que estancar a sangria
que acomete o ensino médio.
Os números que apontam a degradação do setor são contundentes. A mais
recente avaliação do Ideb mostra que as notas nacionais do ensino médio
estão estacionadas, o desempenho em matemática foi o pior desde 2005 e
até os resultados obtidos pela rede privada retrocederam.
A reforma proposta contempla questões que são demandas históricas de
educadores, como a flexibilização dos currículos, a inclusão de
conteúdos para a formação especializada e a expansão da jornada de
ensino, rumo à escola integral.
São temas que apresentei durante a campanha de 2014, sob a coordenação
da hoje secretária-executiva do Ministério da Educação, Maria Helena
Guimarães de Castro. As medidas são efetivas para melhorar o desempenho
escolar e conter as altas taxas de evasão. O país tem 1,7 milhão de
adolescentes de 15 a 17 anos fora da escola. Por ano, 700 mil alunos
abandonam o ensino médio.
Temos problemas sérios a enfrentar, mas nada é mais grave -quando se
olha para o futuro- do que uma guerra perdida na educação. Qualquer
retrocesso nessa área tem impacto direto na formação de nossos cidadãos,
na qualidade e empregabilidade da força de trabalho, na capacidade de
inovação das empresas, na competitividade da economia e no futuro de
milhões de brasileiros. O lugar que iremos ocupar no mundo depende da
prioridade a ser dada à educação.
Ainda há muito por fazer. Precisamos melhorar a infraestrutura das
escolas, garantir tempo de capacitação e planejamento do novo ensino
médio para os professores e estruturar o modelo para o aluno que
trabalha e estuda à noite, bem como para os alunos dos cursos
supletivos.
Essas questões devem ser batidas para que se encontre o consenso
fundamental aos resultados que esperamos. Mas é importante dar um
primeiro passo.
Nos próximos 120 dias, o próprio texto da MP será discutido e poderá ser
aperfeiçoado. O Congresso tem a obrigação de aprofundar o debate com o
devido senso de urgência.
Não se muda um quadro tão deteriorado de um dia para o outro, apesar de
ser possível obter ganhos imediatos com uma gestão mais responsável.
Bons resultados dependem de políticas públicas consistentes e de longo
prazo.
A proposta apresentada pelo governo é um passo corajoso para virar o jogo.
O Brasil precisa e os jovens merecem.
extraídaderota2014blogspot
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