Guilherme Fiuza: O Globo
Não há PowerPoint que consiga explicar a pedalada de Dilma Rousseff na Praia de Ipanema.
Tranquila, sem contratempos, ela foi até o Leblon e voltou. Numa boa. No
dia seguinte, seu ex-ministro da Fazenda foi preso. Como a torcida do
Flamengo já sabia, Guido Mantega era mais um despachante da companhia.
Vejam como a senhora das pedaladas é honesta, conforme um pedação do
Brasil adora acreditar: Mantega, Paulo Bernardo, Fernando Pimentel,
Gleisi Hoffmann, André Vargas, Erenice Guerra, João Vaccari... Chega. Já
sabemos que a cada enxadada corresponde uma minhoca.
Todo o estado-maior de Dilma, e o menor também, está enrolado com a
polícia. E ela está na praia. Com a saga de Guido Mantega no governo
popular — que vai sendo revelada pela mulher do marqueteiro, por Eike
Batista e outros inocentes torturados pela Lava-Jato, — o farol de
Curitiba começa a apontar para as catacumbas do BNDES.
As negociatas de Fernando Pimentel, amigo de Dilma e governador de Minas
(nesta ordem), somadas às tramas de Lula com suas empreiteiras de
estimação, já indicavam que as paredes do gigantesco banco público têm
muito a contar. Agora vai. Mantega foi um dos peões de Dilma no colossal
esquema da contabilidade criativa, que o Brasil só notou quando foi
apelidado de pedalada, e mesmo assim não acha muita graça.
É um enredo impressionante envolvendo BNDES, Tesouro, Caixa e Banco do
Brasil, para esconder déficits e liberar dinheiro público para os
companheiros torrarem em suas olimpíadas eleitorais. Isso aconteceu por
mais de uma década, e foi um par de flagrantes desse assalto que
despachou a presidenta mulher para Ipanema — o famoso golpe.
Se Lula é o sol do PowerPoint, Dilma é, no mínimo, a lua. Guido Mantega
deu sequência às obras dela na presidência do Conselho de Administração
da Petrobras, sob o qual foi montado e executado, nos últimos 13 anos, o
maior esquema de corrupção da República — se é que há algo de
republicano nesse populismo letal.
A literatura obscena da Lava-Jato, e em especial a denúncia do
Ministério Público contra Lula (que o Brasil não leu, porque é muito
longa), mostra tudo. Lula e Dilma cultivaram os ladrões camaradas nos
postos-chave para manter a dinheirama irrigando os cofres partidários.
Mas Dilma diz que não tem conta na Suíça como Eduardo Cunha.
Vamos esclarecer as coisas: Eduardo Cunha é um mendigo perto do esquema
bilionário que sustenta Dilma, a mulher honesta. O que também sustenta
Dilma, e todos os delinquentes do bem, é a ação corajosa dos
progressistas de butique. Eles não se importam que as bandeiras de
esquerda tenham sido usadas para roubar o país.
O papo do golpe é uma mão na roda: Dilma, a revolucionária, foi
massacrada pelos velhos corruptos do PMDB. Todos sabem que estes viraram
ladrões de galinha diante da ópera petista, mas lenda é lenda. Ser
contra o golpe dá direito a ser contra a ditadura militar, a violência
policial, o racismo e o nazismo. É um pacote e tanto.
Também dá direito a ir à posse de Cármen Lúcia no Supremo Tribunal
Federal — o mesmo STF que presidiu o impeachment de Dilma. Deu para
entender? Vários heróis da resistência democrática contra o golpe foram
lá, pessoalmente, festejar a nova presidente da corte golpista.
Contando, ninguém acredita.
Teve até show de MPB — a mesma que ouviu da própria Cármen Lúcia o
famoso “cala a boca já morreu”, contra aquele projeto obscurantista de
censurar biografias. Alguém já disse que é proibido proibir. Mas
debochar da plateia está liberado. Nem é bom citar esses acrobatas da
ideologia. Vários deles são artistas sensacionais, que colorem a vida
nacional.
Melhor esperar que desembarquem de suas canoas furadas a tempo, e parem
de alimentar essa mística vagabunda — porque, atenção, comprar o barulho
do governo destituído e seus genéricos não tem nada a ver com ser de
esquerda. Ao contrário: além de destruir a economia popular, essa gangue
fraudou as bandeiras da esquerda.
Adaptando Millôr: desumanizaram o humanismo. Foi uma dessas turminhas de
humanistas desumanos que hostilizou uma jornalista de TV com seu bebê
de 1 ano numa calçada da Gávea. São jovens simpatizantes de um desses
candidatos bonzinhos que incentivam a porrada. Eles são contra o sistema
(seja lá o que isso signifique) e contra a mídia burguesa.
Assim morreu o cinegrafista Santiago Andrade. No dia 2 de outubro, os
cafetões da criançada ignara vão às urnas buscar seus votos
progressistas. Os heróis da resistência ocuparam o Canecão. Ótima ideia.
Melhor ainda se tivesse sido executada há quase dez anos, quando o PT
fechou esse templo da música — fingindo que estava defendendo a
universidade pública de empresários gananciosos.
Onde estavam vocês quando aconteceu esse golpe hipócrita contra a arte?
Vamos falar a verdade, queridos cavaleiros da bondade. Antes que a praia
vire passarela de quem devia estar vendo o sol nascer quadrado.
extraídadeavarandablogspot
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