João Domingos:O Estado de São Paulo
Em primeiro lugar, porque o PT, alcançado pelo escândalos do mensalão e
do petrolão, apurado pela Operação Lava Jato, não tem mais a bandeira da
ética para levantar. Foi com ela que o partido se enraizou na sociedade
brasileira, tornou-se conhecido, conquistou parte do eleitorado e
chegou ao poder. Por lá permaneceu por 13 anos, até sofrer o processo de
impeachment.
Sem a possibilidade de fazer a defesa da ética, os petistas tentam, num
gesto desesperado, empunhar algumas bandeiras políticas, como as do
“Fora, Temer” e das “Diretas-Já”. Mas eles mesmos sabem que são
bandeiras que não se sustentam por tempo longo e têm pouco apelo
eleitoral.
Em segundo lugar, o momento é delicado e de poucas perspectivas porque a
esquerda dita mais moderna, como o PSB e o PPS, enfrentam o dilema do
adesismo ao governo Temer. E aderir à política do Palácio do Planalto
significa apoiar o arrocho fiscal representado pelo projeto que
estabelece um teto de gastos para o poder público, as reformas da
Previdência e trabalhista.
No mundo, as esquerdas enfrentam dificuldades de todo tipo,
principalmente depois do fim da União Soviética, que fez surgir a
chamada crise paradigmática entre elas. Logo em seguida, o Partido
Socialista Italiano (PSI) foi pego pela Operação Mãos Limpas. O desgaste
foi tão grande que teve até de mudar de nome.
No Brasil, os problemas são especialmente dramáticos porque o PT, num
deslize semelhante ao do PSI, afundou-se nas suspeitas de envolvimento
em corrupção. Hegemônico entre as esquerdas, o PT comprometeu outras
legendas com a imagem ruim que criou para si, pois muitas vezes são
todas colocadas no mesmo balaio pelo eleitor, ou pela propaganda da
extrema direita.
Quando o PT foi criado, em 1980, o dualismo da força de trabalho versus
burguesia capitalista já começava a ficar no passado. Mesmo assim, a
nova legenda, idealizada por parte do clero progressista, comunistas
arrependidos, intelectuais de esquerda e elite sindical, recebeu o nome
de Partido dos Trabalhadores.
Como a maioria esmagadora dos fundadores do PT não abraçava a doutrina
comunista da luta de classes, optou-se por um programa mais moderno, sem
enfrentamentos, baseado na ética. Como já dito aqui, essa bandeira
caiu. Mas o PT tinha ainda uma segunda opção a explorar. Esta de forte
apelo eleitoral, a da ajuda aos mais pobres.
Desde o escândalo do mensalão, em 2005, houve uma guinada no discurso do
governo petista. Durou até a saída de Dilma Rousseff, no dia 31 de
agosto. Trata-se do que se convencionou chamar de “discurso do ódio”.
Segundo esse discurso, o governo petista era atacado pelas elites porque
fazia distribuição de renda, aumentava os ganhos do trabalhador, dava
oportunidade de todos andarem de avião. Esse discurso ainda é usado para
justificar o impeachment de Dilma. Mas não passa de um chavão
populista.
Por causa da crise que atingiu o PT, alguns líderes importantes do
partido, como o ex-governador Tarso Genro e o ex-presidente da Câmara
Arlindo Chinaglia, têm trocado ideia com parlamentares de outros
partidos, principalmente do PSB, do PPS e da Rede, sobre a possibilidade
de criar uma nova legenda. A bandeira da ética seria novamente
levantada.
Proposta nova, mesmo, não há. O que é mais um indício de que a esquerda
continua em crise e não consegue apontar uma saída para ela mesma.
extraídaderota2014blogspot
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