editorial do Estadão
Questionar eventuais equívocos e excessos de uma operação ampla e
complexa como a investigação da corrupção generalizada no governo é uma
obrigação dos cidadãos conscientes. A mídia tem feito isso,
exemplarmente. Mas há uma enorme diferença entre a crítica objetiva e
isenta e a deliberada e maliciosa tentativa de induzir as pessoas a
acreditar que o erro não é a exceção, mas a regra, e que, portanto, a
Operação Lava Jato deve ser proscrita, como uma coisa “do Mal”.
Um dos efeitos maléficos da prolongada – mais de uma década, tempo em
que o lulopetismo conseguiu se manter no poder – divisão do Brasil entre
“nós” e “eles”, personificações do Bem e do Mal, foi a crescente
incapacidade de uma verdadeira legião de brasileiros que se considera
bem pensante – artistas, acadêmicos, jornalistas, intelectuais em geral –
de demonstrar um mínimo de isenção e objetividade diante dos principais
fatos que movimentam o amplo e tumultuado cenário político nacional. O
fenômeno que talvez melhor ilustre essa situação é justamente a Operação
Lava Jato, símbolo do combate à corrupção na gestão da coisa pública.
No cumprimento da missão de investigar e levar à Justiça os responsáveis
pela corrupção no governo, a Lava Jato acabou mirando, obviamente,
gente do governo, figurões políticos e operadores do PT e de seus
aliados, além de empresários delinquentes para quem o princípio da livre
concorrência está baseado na capacidade de oferecer a maior propina.
Lula e o PT – isso tem sido reiteradamente afirmado neste espaço – não
inventaram a corrupção. Na verdade, chegaram ao poder prometendo acabar
com ela e “com tudo de errado que está aí”. Mas, em nome da perpetuação
de seu projeto de poder, renderam-se à pragmática conclusão de que é
mais fácil comprar apoio político com dinheiro do que conquistá-lo por
meio do debate de ideias. Mensalão e petrolão, essencialmente a mesma
coisa, tornaram-se então método político do lulopetismo.
Ocorre que Lula e a tigrada delinquiram em nome de um “projeto popular”
apresentado como a quinta-essência da política “do Bem”. E quem não se
alinhou a essa política passou a ser “do Mal”, ou simplesmente “eles”, a
quem “nós”, os adoradores de Lula, o Supremo, declararam guerra sem
trégua.
Logo, se sou “do Bem”, como posso tolerar um aparato investigatório que
ousa apontar o dedo para os principais heróis do projeto de salvação
nacional que só não deu certo, ainda, por culpa da globalização da
economia e da sabotagem dos inimigos do povo? Para quem pensa assim –
melhor dizendo, reage assim – a Operação Lava Jato é coisa armada por
“eles”. Mas pega mal dizer isso com todas as letras, até porque a
corrupção deixa um rastro muito evidente de podridão e fedor. Então,
atacam pelas beiras, explorando detalhes, para exaltar seus heróis e
denegrir os defensores da lei.
Essa é a estratégia de ilustres lulopetistas que formam a quinta coluna.
Na primeira linha ficam celebridades mais afoitas, abraçando Lula e
Dilma em ambientes protegidos e exibindo cartazes de “Fora Temer” e
“Diretas Já”.
A indisfarçável intenção de Lula e seus seguidores – os que ainda restam
– de desmoralizar a Operação Lava Jato para salvar a própria pele
coincide com a igualmente clara disposição de políticos do PMDB e muitos
outros partidos ex-aliados dos petistas, e que se mantêm governistas,
de “estancar essa sangria”, como já disse o senador Romero Jucá.
Para alegria e orgulho dos brasileiros honestos, o fato é que a
conspiração contra o combate à corrupção oficial, também com certa
ironia, revela que as instituições democráticas têm sido suficientemente
fortes para resistir ao assédio de quem só pensa em tirar proveito
político e pessoal do poder. O povo brasileiro está cansado de ser
enganado e espoliado por governantes inescrupulosos e aposta firme no
saneamento do aparelho estatal, até o ponto em que isso é humanamente
possível. A Lava Jato fica, a tigrada – a que não for presa – passa.
extraídaderota2014blogspot
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