Ruy Fabiano: Com Blog do Noblat - O Globo
O velho adágio de que os cães ladram e a caravana passa ilustra bem o
atual cenário político brasileiro. Enquanto o PT, exposto a um
strip-tease moral sem precedentes, exerce o chamado jus sperniandi, a
Lava Jato prossegue incólume sua trajetória.
Contra fatos, não há argumentos – e o que há são os fatos. Sua
excelência, o fato, dizia Ulysses Guimarães. E o que deles se conhece,
já de si avassalador, é pouco mais de um terço do que há por vir,
segundo a Força Tarefa. A Lava Jato tem pelo menos mais um ano de
serviço pela frente. Há ainda muita lama por emergir.
Lula, réu pela segunda vez – em Brasília e em Curitiba -, vai aos fóruns
internacionais, aciona sua militância, proclama-se vítima e perseguido
político, na vã tentativa de dar cunho ideológico a acusações de
natureza penal. O que está em pauta, porém, nada tem a ver com
ideologia. Trata-se de roubo, que não é de esquerda, nem de direita: é
apenas crime, nos códigos penais de todo o planeta.
E é disso que se trata. O ex-presidente é acusado de chefiar a maior
quadrilha de que se tem notícia na história do país – da Colônia à
República. Quando a Força Tarefa, semana passada, fez a denúncia, os
advogados de Lula, coadjuvados pela militância, se empenharam em
depreciar como inapropriada aquela iniciativa.
O argumento é de que não se pode fazer da justiça espetáculo. É
possível, mas também não se podia fazer da corrupção método de governo,
como foi feito, acionando-se depois máquinas de propaganda para obstruir
e denegrir as investigações.
Com réus heterodoxos, não cabe ortodoxia. O que irritou o petismo foi o
fato de ter sido possível, pela primeira vez, traduzir para a
compreensão de um público maior a extensão e gravidade do que se está
investigando – e o que, dentro disso, representam, por exemplo, o
tríplex e o sítio de Lula.
Esta semana, mais um petista graduado, Guido Mantega – ministro da
Fazenda de Lula e de Dilma -, foi trazido ao centro das investigações,
acusado de participar da propinocracia. Ele pediu ao empresário Eike
Batista, segundo denúncia deste, “contribuição” para as despesas da
campanha de Dilma, que viria da rapina da Petrobras.
Dilma, até há pouco preservada de suspeitas, já integra o rol de
investigados. Presidia o Conselho Administrativo da Petrobras e era
ministra de Minas e Energia no início da Era Lula, quando tudo começou. A
seguir, comandou a Casa Civil e sucedeu o Chefe – ou seja, esteve
sempre na cabine de comando.
Os fatos são esses e as investigações agora afunilam. Se há inocentes a
bordo, a oportunidade de prová-lo chegou. Não adianta ir à ONU e aos
tribunais internacionais – e muito menos apelar à solidariedade de
governos bolivarianos, à beira do naufrágio.
Outro revés petista deu-se esta semana: a Corte Especial do Tribunal
Regional Federal da 4.ª Região manteve, por 13 votos a um, o
arquivamento da representação contra o juiz federal Sérgio Moro
interposta por 19 advogados em abril.
Os advogados recorreram contra a decisão do corregedor-regional da 4.ª
Região, em junho, de arquivar as reclamações. A representação postulava
instauração de processo administrativo disciplinar contra Moro e seu
afastamento cautelar da jurisdição até a conclusão da investigação – na
prática, o fim da Lava Jato.
Moro, segundo seus acusadores, teria cometido ilegalidades ao divulgar
comunicações telefônicas de autoridades com privilégio de foro – mais
especificamente a conversa entre Lula e Dilma, que inviabilizou a
nomeação do ex-presidente à Casa Civil.
O relator do processo, desembargador Rômulo Pizzolatti, foi curto e
groso: “Não há indícios de prática de infração disciplinar por parte de
Moro”. Assunto encerrado: PT, saudações.
Lula e aliados já não são matéria política. Têm encontro marcado com a
Justiça. As atenções do meio político voltam-se agora para o futuro: a
gestão do trágico legado econômico-administrativo do PT. Câmara e Senado
começam a discutir a PEC 241, que trata do teto dos gastos públicos,
questão espinhosa e incontornável, que centraliza as atenções do governo
Temer.
O país quer olhar para a frente, se reerguer, enquanto a Força Tarefa aciona o espelho retrovisor do camburão.
extraídaderota2014blogspot
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