CELSO MING ESTADÃO
A Uber já colocou em teste em Pittsburgh alguns desses produtos. O plano é colocar os primeiros veículos desse tipo à disposição dos seus mais fiéis clientes agora em outubro.
A norte-americana Tesla já vendeu milhares de veículos dotados dessa tecnologia e o Google, também no negócio, está experimentando seus próprios protótipos.
Enfim, o carro que circula sem motorista é agora mais do que uma ambição de novidadeiros. Pode-se dizer que não tem mais retorno. E aqueles que já começam a se revoltar contra mais um morticínio de postos de trabalho de motoristas e de taxistas devem ser lembrados de que o novo produto avança com base em outras vantagens. Para autoridades dos Estados Unidos citadas pelo New York Times, por exemplo, o carro sem motorista poupa tempo, dinheiro e vidas.
Se o principal objetivo é garantir mais segurança, fica entendido que eventuais acidentes com carros automáticos serão mais provavelmente provocados por veículos pilotados por humanos e não pelos novos engenhos eletromecânicos.
Isso posto, parece inevitável que as leis acabarão por incentivar o uso de veículos sem motorista. E já dá para prever que, dentro de mais alguns anos, eles estarão disponíveis em garagens ou em locais públicos, como hoje estão disponíveis as bicicletas que levam o logotipo de alguns bancos e podem ser usadas por quem se interessar por dar umas voltas por aí. Outra consequência positiva, as ruas tenderão a ficar menos atravancadas porque os veículos serão mais bem aproveitados. Em abril, o artigo de um professor da Duke University no Wall Street Journaladvertia que as cidades não estão preparadas para a circulação de carros sem motorista. Mas antes de concordar com essa afirmação, convém perguntar se as mesmas cidades estão hoje mais preparadas para enfrentar os veículos e o trânsito tais como são hoje.
A questão da destruição do emprego não é irrelevante, mas é preciso entender que os postos de trabalho que envolveram o maior uso do automóvel começaram a ser fechados há bem mais tempo. Quando as autoridades locais começaram a instalar semáforos em cada esquina, por exemplo, desempregaram os guardas de trânsito. E quando semearam radares pelas avenidas, dispensaram encarregados de redigir multas de trânsito. É assim a vida. Ninguém espera hoje que os aeroportos sucateiem os carrinhos de malas apenas para restabelecer o emprego dos carregadores.
O computador, o cartão de crédito, o comércio eletrônico e a Tecnologia de Informação continuam fechando milhões de postos de trabalho. A automação bancária se encarrega de outro tanto.
É verdade que a tendência é a de que as novas atividades que têm surgido com os chamados tempos modernos não conseguem repor os postos de trabalho que vêm sendo fechados. Este é um problema mais amplo que as sociedades modernas têm de resolver. A atividade econômica também não subsistiria sem poder aquisitivo e se o emprego não consegue garanti-lo, então será preciso prover outras soluções que hoje não estão disponíveis.
CONFIRA
Esperando Godot
Certa disposição para voltar a elevar os juros já em dezembro o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) deixou clara, não só no comunicado divulgado após a reunião desta quarta-feira, mas, também, na entrevista dada em seguida pela presidente Janet Yellen. O problema é que disposição, nesse caso, não é tudo. É preciso ultrapassar a barreira da sensatez.
A nau dos sensatos
Na entrevista, Yellen reconheceu que a maioria dos dirigentes do Fed vê argumentos mais fortes para uma alta imediata nos juros, “mas concordaram todos em que é sensato esperar”. Até quando, não disseram.
Pode mudar
É, a rigor, uma situação que se repete e pode continuar se repetindo. Em novembro estará eleito o novo presidente dos Estados Unidos, algumas mudanças podem acontecer até então e nos meses seguintes. E não será improvável que o Fed, mais uma vez, entenda que é mais sensato esperar. Quem sabe esperar por Godot...
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