Jornalista Andrade Junior

terça-feira, 27 de setembro de 2016

"Ao pé do Caboclo: Dilma, Wagner, Rui e Alice em Salvador"

 Vitor Hugo Soares: Com Blog do Noblat - O Globo

A Cidade da Bahia assistiu, na tarde da última quinta-feira, 21, a reprodução temporã de uma de suas mais tradicionais e reconhecidas cerimônias de lamentações na política e no futebol:  o “choro no pé do Caboclo”. Aconteceu antes da caminhada “das oposições soteropolitanas em desalinho” ao  centro da capital, marcada por nítidos sinais de desencanto e atordoamento decorrentes, em grande parte, da divulgação dos números da mais recente pesquisa, do Instituto Paraná/Rede Record, de intenção de votos para a prefeitura de Salvador. O candidato ACM Neto (DEM) segue em pleno galope, com 69% da preferência dos eleitores, contra 10,5%  da deputada Alice Portugal (PC do B), candidata do governador Rui Costa e do ex-ministro Jaques Wagner, do PT.    
Refiro-me, é claro, à performance da ex-presidente Dilma Rousseff  em sua primeira visita à capital baiana, depois de condenada e afastada do cargo, por prática de crime de responsabilidade e pedaladas fiscais (mas preservada em seus plenos direitos políticos e de ocupar cargos públicos, graças à estranha e imediata anistia que recebeu da aliança, à margem da Constituição, construída pelo ministro Ricardo Lewandowski, do STF, e Renan Calheiros, presidente do Senado). 
Pior para a turma de Rui e Wagner que o resultado da pesquisa Paraná/Record, - divulgada pouco antes da concentração, na praça histórica aos heróis do 2 de Julho, no Campo Grande, rumo à caminhada que iria culminar com um comício eleitoral, na Praça Castro Alves, estrelado pela ex-presidente – foi o impacto nacional devastador, nos comando e na militância petista, causado pela notícia da detenção, em São Paulo, do ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, em nova etapa da operação Lava Jato, de combate a corruptos e corruptores.
Com buscas e prisão feitas também em Salvador, horas antes de Dilma desembarcar na cidade. E de começar, sob o comando de Jaques Wagner, o “chame gente” ( para usar a expressão do famoso frevo baiano de Moraes Moreira),  no Campo Grande. Um banho de água fria, sem chuva, no começo da primavera na cidade de todos os santos e de quase todos os pecados, no dizer do saudoso cronista do cotidiano, Nelson Gallo. Uma conjugação de tempestades quase perfeitas e de desventuras políticas mais que propícias para lamentações e choro de mágoas e decepções ao pé do monumento ao Caboclo.
Aqui, abro um pequeno interlúdio, para informações e algumas explicações necessárias ao entendimento do 22 de setembro de 2016 na Cidade da Bahia, visitada por Dilma Rousseff às vésperas da votação para eleger o comando da prefeitura da quarta maior capital do País. Primeiro e único, muito provavelmente, a deduzir pelas pesquisas mais atualizadas (dias antes do instituto Paraná, o Ibope havia divulgado uma pesquisa, encomenda pela TV Bahia (afiliada da Rede Globo) com números bastante parecidos, francamente favoráveis a ACM Neto, o candidato da coligação DEM/PMDB, que segue, na frente para permanecer no comando do Palácio Tomé de Souza. 
Escrevi uma vez, em 2005, sobre este tema. Vale reproduzir agora alguns trechos, 11 anos depois, não só para contextualizar os fatos desta semana, mas, igualmente, para os devidos comparativos factuais e históricos por parte dos leitores: “Vá chorar no pé do caboclo” é uma expressão popular com a cara de Salvador. Tanto quanto a célebre ¨triste Bahia”, do poeta satírico Gregório de Matos, o boca do inferno, ou “cada macaco no seu galho”, de Riachão, sambista da terra.  A frase tem a ver com os festejos ao 2 de Julho, data cívica mais reverenciada do Estado”.
“O Caboclo e a Cabocla - é preciso explicar aos nativos de outras paragens - são personagens simbólicos das batalhas libertárias de Pirajá. Os conterrâneos da heroína Joana Angélica identificam um significado épico e histórico no 2 de Julho para a consolidação, por meio de lutas heróicas, da Independência do Brasil. No Campo Grande, depois de anos de polêmica, foi construído o monumento em louvor a esses heróis da raça, inaugurado em 2 de julho de 1895. E começou o costume local de aconselhar o choro no pé do caboclo, quando se chega “à casa do sem jeito”.

Na situação em tela, pode até não ser ainda a casa do sem jeito. Mas o choro correu solto "diante do caboclo e da cabocla",  antes da saída em passeata eleitoral de Dilma com Alice, que culminaria no comício da Castro Alves. Malandramente convocada, nas rádios e emissoras de TV, como “ato em defesa da democracia e pelo Fora Temer”.
Ainda no Campo Grande, em meio a gritos de palavras de ordem pela militância, e choradeira quase geral, o ex-ministro Jaques Wagner cutucou com provocações risíveis o candidato do DEM. Cobrou de ACM Neto, -cuja gestão é aprovada por mais de 80% da população, - que traga o presidente Michel Temer para participar de ato de sua campanha, acompanhado do ministro Geddel Vieira Lima, do PMDB, principal aliado do prefeito na campanha de reeleição. “Duvido que o prefeito queira aparecer ao lado de Temer e Geddel, como nós ao lado de Dilma. E aí Neto, vai trazer Temer?”, disse Wagner na praça.
No palanque da Castro Alves, em seu discurso, Dilma seguiu na arenga, puxando o assunto do metrô soteropolitano (que já enterrou carradas de dinheiro público e serve de bandeira eleitoral petista há mais de 14 anos) para provocar Neto: "Quem é capaz de dar golpe e defender rupturas, perdas de direitos trabalhistas, é capaz de mentir em quaisquer circunstâncias”, disse a ex-mandatária condenada e afastada, sobre a declaração de ACM Neto em sua campanha, de que ajudou a destravar e fazer o metrô de Salvador andar.
Choro de matar de rir ao ocupante do Tomé de Souza e seus atuais aliados em Brasília. Mais que isso, só a confirmação do governador Rui Costa, de que o ex (governador e ministro), Jaques Wagner, depois das eleições municipais, vai ocupar o comando da Fundação Luiz Eduardo Magalhães (FLEM), órgão de planejamento do governo do Estado. Ou não? Responda quem souber.
extraidaderota2014blogspot

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