Vitor Hugo Soares: Com Blog do Noblat - O Globo
A Cidade da Bahia assistiu, na tarde da última quinta-feira, 21, a
reprodução temporã de uma de suas mais tradicionais e reconhecidas
cerimônias de lamentações na política e no futebol: o “choro no pé do
Caboclo”. Aconteceu antes da caminhada “das oposições soteropolitanas em
desalinho” ao centro da capital, marcada por nítidos sinais de
desencanto e atordoamento decorrentes, em grande parte, da divulgação
dos números da mais recente pesquisa, do Instituto Paraná/Rede Record,
de intenção de votos para a prefeitura de Salvador. O candidato ACM Neto
(DEM) segue em pleno galope, com 69% da preferência dos eleitores,
contra 10,5% da deputada Alice Portugal (PC do B), candidata do
governador Rui Costa e do ex-ministro Jaques Wagner, do PT.
Refiro-me, é claro, à performance da ex-presidente Dilma Rousseff em
sua primeira visita à capital baiana, depois de condenada e afastada do
cargo, por prática de crime de responsabilidade e pedaladas fiscais (mas
preservada em seus plenos direitos políticos e de ocupar cargos
públicos, graças à estranha e imediata anistia que recebeu da aliança, à
margem da Constituição, construída pelo ministro Ricardo Lewandowski,
do STF, e Renan Calheiros, presidente do Senado).
Pior para a turma de Rui e Wagner que o resultado da pesquisa
Paraná/Record, - divulgada pouco antes da concentração, na praça
histórica aos heróis do 2 de Julho, no Campo Grande, rumo à caminhada
que iria culminar com um comício eleitoral, na Praça Castro Alves,
estrelado pela ex-presidente – foi o impacto nacional devastador, nos
comando e na militância petista, causado pela notícia da detenção, em
São Paulo, do ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, em nova etapa da
operação Lava Jato, de combate a corruptos e corruptores.
Com buscas e prisão feitas também em Salvador, horas antes de Dilma
desembarcar na cidade. E de começar, sob o comando de Jaques Wagner, o
“chame gente” ( para usar a expressão do famoso frevo baiano de Moraes
Moreira), no Campo Grande. Um banho de água fria, sem chuva, no começo
da primavera na cidade de todos os santos e de quase todos os pecados,
no dizer do saudoso cronista do cotidiano, Nelson Gallo. Uma conjugação
de tempestades quase perfeitas e de desventuras políticas mais que
propícias para lamentações e choro de mágoas e decepções ao pé do
monumento ao Caboclo.
Aqui, abro um pequeno interlúdio, para informações e algumas explicações
necessárias ao entendimento do 22 de setembro de 2016 na Cidade da
Bahia, visitada por Dilma Rousseff às vésperas da votação para eleger o
comando da prefeitura da quarta maior capital do País. Primeiro e único,
muito provavelmente, a deduzir pelas pesquisas mais atualizadas (dias
antes do instituto Paraná, o Ibope havia divulgado uma pesquisa,
encomenda pela TV Bahia (afiliada da Rede Globo) com números bastante
parecidos, francamente favoráveis a ACM Neto, o candidato da coligação
DEM/PMDB, que segue, na frente para permanecer no comando do Palácio
Tomé de Souza.
Escrevi uma vez, em 2005, sobre este tema. Vale reproduzir agora alguns
trechos, 11 anos depois, não só para contextualizar os fatos desta
semana, mas, igualmente, para os devidos comparativos factuais e
históricos por parte dos leitores: “Vá chorar no pé do caboclo” é uma
expressão popular com a cara de Salvador. Tanto quanto a célebre ¨triste
Bahia”, do poeta satírico Gregório de Matos, o boca do inferno, ou
“cada macaco no seu galho”, de Riachão, sambista da terra. A frase tem a
ver com os festejos ao 2 de Julho, data cívica mais reverenciada do
Estado”.
“O Caboclo e a Cabocla - é preciso explicar aos nativos de outras
paragens - são personagens simbólicos das batalhas libertárias de
Pirajá. Os conterrâneos da heroína Joana Angélica identificam um
significado épico e histórico no 2 de Julho para a consolidação, por
meio de lutas heróicas, da Independência do Brasil. No Campo Grande,
depois de anos de polêmica, foi construído o monumento em louvor a esses
heróis da raça, inaugurado em 2 de julho de 1895. E começou o costume
local de aconselhar o choro no pé do caboclo, quando se chega “à casa do
sem jeito”.
Na situação em tela, pode até não ser ainda a casa do sem jeito. Mas o choro correu solto "diante do caboclo e da cabocla", antes da saída em passeata eleitoral de Dilma com Alice, que culminaria no comício da Castro Alves. Malandramente convocada, nas rádios e emissoras de TV, como “ato em defesa da democracia e pelo Fora Temer”.
Na situação em tela, pode até não ser ainda a casa do sem jeito. Mas o choro correu solto "diante do caboclo e da cabocla", antes da saída em passeata eleitoral de Dilma com Alice, que culminaria no comício da Castro Alves. Malandramente convocada, nas rádios e emissoras de TV, como “ato em defesa da democracia e pelo Fora Temer”.
Ainda no Campo Grande, em meio a gritos de palavras de ordem pela
militância, e choradeira quase geral, o ex-ministro Jaques Wagner
cutucou com provocações risíveis o candidato do DEM. Cobrou de ACM Neto,
-cuja gestão é aprovada por mais de 80% da população, - que traga o
presidente Michel Temer para participar de ato de sua campanha,
acompanhado do ministro Geddel Vieira Lima, do PMDB, principal aliado do
prefeito na campanha de reeleição. “Duvido que o prefeito queira
aparecer ao lado de Temer e Geddel, como nós ao lado de Dilma. E aí
Neto, vai trazer Temer?”, disse Wagner na praça.
No palanque da Castro Alves, em seu discurso, Dilma seguiu na arenga,
puxando o assunto do metrô soteropolitano (que já enterrou carradas de
dinheiro público e serve de bandeira eleitoral petista há mais de 14
anos) para provocar Neto: "Quem é capaz de dar golpe e defender
rupturas, perdas de direitos trabalhistas, é capaz de mentir em
quaisquer circunstâncias”, disse a ex-mandatária condenada e afastada,
sobre a declaração de ACM Neto em sua campanha, de que ajudou a
destravar e fazer o metrô de Salvador andar.
Choro de matar de rir ao ocupante do Tomé de Souza e seus atuais aliados
em Brasília. Mais que isso, só a confirmação do governador Rui Costa,
de que o ex (governador e ministro), Jaques Wagner, depois das eleições
municipais, vai ocupar o comando da Fundação Luiz Eduardo Magalhães
(FLEM), órgão de planejamento do governo do Estado. Ou não? Responda
quem souber.
extraidaderota2014blogspot
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