por Robert A. Sirico.
No entanto, havia uma dimensão bastante interessante para as doações a esses dois grupos – “PICO” e “Fé na Vida Pública” (Faith in public life, FPL) - que, além de serem “baseadas na fé", gerenciam redes de ativistas “grass roots” (grass roots em inglês significa “pessoas separadas da elite” ou “gente comum”). Soros estava contribuindo para recrutar 10 mil voluntários, enquanto treinava outros 3.500 para uma mobilização, a fim de influenciar a Igreja Católica em 2015 durante a visita do Papa Francisco aos Estados Unidos.
Num primeiro momento, as doações parecem benignas. Como presidente de um grupo não-partidário, eu entendo que é preciso dinheiro para disseminar as ideias de uma organização às pessoas religosas. O que é desconcertante, no entanto, é a intenção política (muito óbvia pelos documentos) para manipular os líderes da Igreja Católica. Tem-se a impressão de que Soros e seus companheiros de viagem enxergam as lideranças das comunidades religiosas em geral e, principalmente da Igreja Católica, como meros idiotas úteis a serem manipulados para promoção de suas agendas políticas e secularistas.
Apesar disso, os “justiceiros sociais” dessas duas organizações beneficiadas por Soros (PICO e FPL) aparentemente não possuem nenhum escrúpulo moral sobre o recebimento de dinheiro de fontes que, a julgar por várias “empresas” de caridade de George Soros, veem a Igreja Católica e outros grupos religiosos tradicionais como uma grande parte dos problema sociais que procuram erradicar. De acordo com os documentos vazados, uma parte das doações monetárias de Soros foi gasta promovendo John Gehring, um ex-assistente de diretor de mídia, na Conferência dos Bispos Católicos dos EUA, como comentarista dos meios de comunicação nacionais de mídia.
Gehring entrou em conflito com os bispos católicos em 2012 após a emissão de uma nota que fornecia aos jornalistas perguntas antagônicas para confrontarem os bispos sobre a Quinzena da Liberdade religiosa daquele ano. Ele também encorajou os jornalistas a desafiarem qualquer alegação de que a Primeira Emenda de garantias de liberdade religiosa estava sob ataque.
A visita do Papa Francisco aos Estados Unidos, em 2015, seguiu o lançamento, no início do ano, de sua encíclica “Laudato Si”. Ambas definiram não apenas o cenário da Conferência das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, em Paris, mas um amplo debate religioso e político sobre essas questões, precisamente o que o Santo Padre pretendia. Os documentos vazados revelam, entretanto, que o FPL e a PICO tinham muito mais que um debate como seu objetivo.
Eles queriam, por exemplo, “arregimentar bispos para mais expressar publicamente mensagens de justiça econômica e racial, a fim de criar uma massa crítica de bispos que estejam alinhados com o Papa”. Eles também relatam que “os grupos locais de PICO estão capitalizando a dinâmica da visita do Papa, como planejado, para pressionar por uma série de reformas políticas estaduais e locais, inclusive em Minnesota, um estado com população católica significativa nas regiões suburbanas e rurais, onde dezenove paróquias e, distritos-chave legislativos estão prontas a apoiar campanhas legislativas para obter carteiras de motorista para imigrantes, regular empréstimos individuais, e aumentar, em todo o estado, licenças familiares pagas. Os 650 mil dólares também ajudaram a lançar as sementes para os esforços de PICO e FPL para “mudar as prioridades da Igreja Católica nos Estados Unidos para se concentrar em questões de injustiça e opressão".
Outros detalhes dos múltiplos vazamentos de minutas de reuniões da Open Society revelam o trabalho de uma rede política “progressista” que se estende para além da PICO e da FPL nos corredores do próprio Vaticano.
“A fim de aproveitar este momento, vamos apoiar as atividades organizadas pela PICO para envolver o Papa em questões de justiça econômica e racial, usando inclusive a influência do Cardeal Oscar Rodriguez Maradiaga, assessor do Papa, e enviar uma delegação para visitar o Vaticano na primavera ou no verão, para permitir a ele ouvir diretamente os católicos de baixa renda da América”.
As minutas continuam: “ao aproveitar a visita papal para mostrar a crítica ao que o Papa chama de “uma economia de exclusão e desigualdade” e sua rejeição às teorias de redistribuição, PICO e FPL vão trabalhar para construir uma ponte visando maior conversa sobre as preocupações econômicas básicas e mudar paradigmas e prioridades nacionais na preparação para a campanha presidencial de 2016”. Tendo em conta os esforços evidentes contra alguns grupos de ativistas de base religiosa, que essencialmente parecem perto de influenciar a atual campanha presidencial e até mesmo levantar dinheiro usando a imagem do Papa Francisco, eu acredito que o investimento do sr. Soros foi bem sucedido.
Isso não é educação. Isso é manipulação política, a fim de colocar a Igreja Católica na agenda política do sr. Soros; um esforço cínico, bem financiado, para explorar os fiéis e atingir fins morais e políticos duvidosos.
O Sr. Soros deveria ser condenado por usar seu dinheiro dessa forma, e as organizações baseadas na fé que o aceitaram deveriam ter vergonha.
O padre Robert A. Sirico é presidente do Acton Institute em Grand Rapids, Michigan.
Tradução: Dayane Mota e Milena Popovic
EXTRAÍDADEPUGGINA.ORG
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