por Nivaldo Cordeiro.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em tudo que escreve não se
esquece de sua veia de ideólogo socialista, razão porque elegeu como
inimigo de verdade o grupo conservador, não apenas na sua representação
política, mas na sua condição existencial. FHC nunca faz esse combate
com idêntica energia quando se refere aos liberais doutrinários, pois
sabe ele que o berço de ambas as ideologias, socialista e lieral, é o
mesmo. FHC aceita o liberalismo, sobretudo na sua versão
norte-americana, mas também na clássica. Descobriu governando, ao
implantar o Plano Cruzado, que a ciência econômica digna do nome é a
liberal. Seu "neoliberalismo" consiste na conciliação do Estado grande
com as ideias centrais do liberalismo clássico, ao menos no que se
refere à busca do equilíbrio econômico e na boa administração da moeda.
No artigo publicado hoje (Triste Fim, comentando o ocaso político de Dilma Rousseff), lamentou pelo PT e proclamou:
"O atual amálgama dos ultraconservadores em matéria comportamental com
os oportunistas, clientelistas etc., forma o que eu denomino de "o
atraso"".
O que FHC chama de ultraconservadores são os cristãos e
os que são contra o socialismo. Aqueles que lutam contra a prática do
aborto enquanto instituição do Estado, os que lutam contra o gaysismo
como facção política que quer moldar a moralidade coletiva, os que lutam
contra o patrocínio estatal ao uso cotidiano de estupefacientes, com
destaque para a maconha. É toda a agenda globalista que ele empunha. FHC
se esquece que, antes que os gramscianos grassassem por aqui, os
conservadores já estavam e que a população brasileira é majoritariamente
conservadora. Na verdade, finge esquecer, pois sabe que o campo de
batalha é contra essa gente, intrinsecamente reconhecendo a sua
importância política.
Vejam que FHC não está preocupado com as
eleições do dia (ou do ano), mas com a ocupação do aparelho do Estado de
forma a patrocinar sua política socialista e revolucionária no longo
prazo. Não é uma luta meramente eleitoral, a dele, é uma luta
transformadora. No discurso de FHC não há lugar para reconhecer a
legitimidade da existência do conservadorismo, que equipara aos
oportunistas e clientelistas, o atraso (expressão cunhada por Sérgio
Buarque de Holanda). Desde que se tornou um h0mem adulto FHC fez-se um
agente revolucionário eficaz nos termos gramscianos, tão eficaz que ele
próprio se tornou presidente da República e fez o seu próprio sucessor,
Lula e o PT, obra máxima de sua engenharia política.
[A ironia
política é que FHC e o PSDB tiveram que apoiar a destituição do PT
dentro da ordem, abrindo espaço para a emergência das forças
conservadoras. O socialismo radicalizado do PT mostrou-se incompatível
com a realidade, levando o país à mais grave crise econômica de sua
história. Talvez contra a vontade íntima de FHC o PSDB teve que apoiar o
levante parlamentar bem sucedido, que colocou nos ombros do PT a
responsabilidade do resgate histórico daqueles que praticamente estavam
excluídos do debate político nacional. O próprio FHC e o PT governando é
que deram força e se aliaram aos oportunistas e clientelistas.]
FHC sabe que a derrota do PT foi um passo atrás no rumo da revolução
que ele tanto acalantou e pela qual tanto lutou. Pena que o PT colocou
os burros n'água e impôs a sua ejeção do poder, sob pena de destruir a
economia nacional. Seu lamento é ostensivo: "o atraso passou a comandar
as ações políticas, tendo Eduardo Cunha como figura exponencial".
Lembremos que Eduardo Cunha arquivou a agenda da revolução dos costumes,
tão cara a FHC, tento chegado lá por pura inabilidade de Dilma Rousseff
na eleição para a presidência da Câmara de Deputados. Desde que Eduardo
Cunha assumiu, a agenda abortista, gaysista e de liberação da maconha
foi esquecida, para desespero de FHC.
FHC sabe bem o tamanho do
retrocesso que é a derrota do PT no âmbito do processo revolucionário,
mas as besteiras do Partido dos Trabalhadores foram tantas que não houve
outro jeito que não assistir ao ressurgir fortalecido das forças
conservadoras, tão detestadas por ele próprio.
A contrarrevolução está em marcha e as eleições deste ano poderão fazer surgir novas lideranças conservadoras.
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