JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO ESTADÃO
Por enquanto, o PT é apenas o sétimo partido em arrecadação eleitoral. Está atrás de siglas como PDT, PSD e PP. Líder do ranking provisório, o PMDB arrecadou três vezes mais que o PT até agora. O PSDB, 175%. O PSB, 66% a mais. Mesmo na arrecadação proporcional ao número de candidatos a prefeito, os petistas continuam em sétimo lugar (e o PMDB segue em primeiro).
Em 2012, ano em que o partido elegeu mais prefeitos na sua história, o PT foi campeão de arrecadação. Superou em quase R$ 30 milhões o PMDB, que tinha 521 candidatos a mais. Como consequência de seu sucesso eleitoral, os petistas avançaram sobre a base de poder municipal do aliado. Isso alimentou rancores que foram se refletir na Câmara dos Deputados.
O conflito municipal entre PT e PMDB alimentou nos anos seguintes à eleição de 2012 lideranças peemedebistas que se opunham ao avanço petista. Eduardo Cunha aproveitou esse ambiente para se tonar o principal porta-voz da reação. De líder dos insatisfeitos, virou líder do PMDB e pulou dali para a presidência da Câmara. O desfecho da história é conhecido.
O troco do PMDB continua, porém. Alavancados pelo poder federal que herdaram - ou tomaram, escolha o verbo - do PT, os peemedebistas buscam reconstruir em 2016 a hegemonia municipal que os mantêm no centro político do País desde o fim da ditadura. Os dados de arrecadação revelam que estão indo bem - mesmo onde as pesquisas de intenção de voto não mostram seus candidatos nem perto da liderança, como no Rio de Janeiro.
Perder capitais importantes como o Rio ou São Paulo é um baque para qualquer partido. Mas não é das metrópoles que as agremiações se alimentam. É das centenas, quando não milhares de pequenas e médias máquinas administrativas municipais. Prefeitos são os principais cabos eleitorais dos deputados federais. E isso está na raiz de todo o poder e influência partidários.
Por seu protagonismo na eleição da bancada federal de qualquer grande partido, a quantidade de prefeitos eleitos determina indiretamente o tempo de propaganda que PMDB ou o PT vão usar ou negociar na eleição presidencial, impacta o tamanho da fatia a que terão direito no Fundo Partidário, influi em quantos ministérios, estatais e CPIs comandarão no futuro. O novo ciclo de poder que começa em 2 de outubro terá reflexos até 2022.
Nos últimos dias falou-se muito de Lula, de procuradores e juízes, mas na fria contabilidade eleitoral só três fatores contam de fato: popularidade do incumbente, tempo de propaganda na TV e rádio e, mais do que tudo, dinheiro para as campanhas.
Um prefeito muito bem avaliado tem alta chance de se reeleger. Mas aprovação acima de 60% é rara hoje entre petistas. O tempo de TV depende do tamanho das coligações: quanto mais partidos, mais segundos de exposição para o candidato. Mas os escândalos, encarceramentos e, sobretudo, o empobrecimento do PT afastaram os aliados dos petistas. Como em qualquer casamento por interesse, acabou a grana, acabou o relacionamento.
Se a abundância de dinheiro fez o PT lambuzar-se de poder, as prestações de contas eleitorais sugerem que sua escassez vai afastar de vez o partido do protagonismo político que encena desde 2002. O novo papel da estrela petista será conhecido em duas semanas: pode virar anã branca no centro de uma nebulosa, explodir como supernova ou ser engolida por um buraco negro.
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