VERA MAGALHÃES ESTADÃO
A denúncia apresentada
na quarta-feira pelos procuradores da força-tarefa da Lava Jato é um
petardo triplo que atinge em cheio Lula e o PT no momento em que
ensaiavam tomar as ruas denunciando o suposto golpe de Estado e a
vindoura supressão de direitos sociais.
Agora, o partido e seu
líder máximo terão de recolher tropas e munições que pretendiam manter
nas ruas, na esperança de evitar um desastre completo nas urnas no mês
que vem, para tentar desconstruir a peça que é avassaladora
politicamente e muito bem fundamentada do ponto de vista técnico.
O
petardo é triplo porque faz desmoronar de uma só vez o discurso do
golpe, as chances eleitorais do PT e a esperança que ainda havia nas
hostes petistas de que haveria espaço para uma campanha Lula 2018. Não
há.
A entrevista foi propositalmente dividida entre três
procuradores. Coube a Deltan Dallagnol, o mais “midiático” dos
procuradores, fazer o que ele chamou de montagem do “quebra-cabeça”: a
tese segundo a qual Lula era o “elo”, “comandante” ou “maestro” de um
esquema criminoso que ele batizou de “propinocracia”.
Citando em
looping o nome do ex-presidente, como para marcar de forma indelével a
tese, Deltan também tratou de fixar graficamente o que dizia, por meio
de um diagrama que logo viralizou nas redes sociais com círculos de
partes do esquema que levavam a Lula, no centro da tela.
Foi a
mais clara ligação feita até aqui por uma autoridade da Lava Jato entre
os esquemas do mensalão e do petrolão, que seriam ambos “faces” de um
mesmo esquema destinado a “perpetuar criminalmente” o PT no poder,
segundo o procurador.
Mais: pela primeira vez, o Ministério
Público acusou o ex-presidente de ter sido beneficiado pessoalmente com
“pelo menos” R$ 3,7 milhões do esquema de propinas vindo da Petrobras,
por meio da empreiteira OAS.
Depois do show de Lula feito pelo
“maestro” da Lava Jato, coube a outros dois procuradores elencarem as
provas a embasar a denúncia, que teve como foco a compra e reforma do
tríplex do Guarujá, que a Lava Jato sustenta que foi dado a Lula e sua
família para lavar recursos oriundos de propinas, e no armazenamento dos
“presentes” de Lula como presidente pela mesma construtora.
O
estrago na defesa de Lula é imenso. A Lava Jato reuniu documentos,
fotos e fez até exame grafotécnico no documento do tríplex. Não será
possível desconstruir a denúncia apenas com base no discurso de que há
uma perseguição ao ex-presidente.
Eleitoralmente para o PT é um
strike. Equivale, em termos de estrago, à foto da pilha de dinheiro que
seria usada para comprar um dossiê contra José Serra às vésperas do
primeiro turno da eleição presidencial de 2006.
Candidatos
petistas como Fernando Haddad estavam começando a ensaiar uma estratégia
eleitoral de se irmanar à tese do golpe e tentar consolidar o voto dos
anti-Temer. Diante da cena de Lula denunciado como chefe de um esquema
criminoso, haverá menos apelo para esse discurso.
* Texto originalmente publicado no Broadcast Político, às 17h57 desta quarta-feira.
extraídadeavarandablogspot




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