CIDA DAMASCO ESTADÃO
Depois dos tropeços
das últimas semanas, parece que o presidente Michel Temer finalmente
começa a pôr a bola em jogo. Mas, a julgar por suas últimas
manifestações, o jogo pode ser mais retrancado do que se anunciava
Foi-se
o impeachment, foi-se a cassação de Eduardo Cunha e faltam pouco mais
de duas semanas para o primeiro turno das eleições municipais. Mais do
que na hora, portanto, de o governo entrar em campo, com a real
definição de prioridades e articulações necessárias para viabilizá-las.
Depois dos tropeços das últimas semanas, parece que o presidente Michel
Temer finalmente começa a pôr a bola em jogo. Mas, a julgar por suas
últimas manifestações, o jogo pode ser mais retrancado do que se
anunciava.
Após o lançamento do novo programa de concessões e
privatizações, nesta terça-feira, o que está no foco das prioridades é a
briga pela aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) dos
gastos públicos. Apesar da impaciência de parte dos aliados –
especialmente dos tucanos – , dos mercados e de setores empresariais, o
envio da reforma da Previdência ao Congresso Nacional ainda não tem data
para acontecer. E a reforma trabalhista, com os estragos provocados
pela incontinência verbal do ministro da pasta, fica mais distante a
cada declaração de Temer: tudo o que ele tem feito, nos últimos dias, é
enumerar o que não vai mudar na legislação trabalhista.
O
lançamento do programa de concessões, com uma cesta de 34 projetos e RS$
30 bilhões de dinheiro público, caiu bem, pelo menos em termos de
expectativas. Conforme o governo havia prometido aos empresários, o que
vai balizar a disputa agora é a garantia de retorno do investimento e
não mais a menor tarifa a ser cobrada pelo serviço – compromisso que,
para ser honrado, exigia muitas vezes a entrada maciça do BNDES no
empreendimento. Mas ainda faltam muitas definições para se avaliar o
alcance do programa: há dúvidas, principalmente, se o novo modelo fará
com que haja maior participação de recursos privados no financiamento
dos projetos.
Vamos, então, para a bola da vez, a PEC do gasto
público. Considerada um primeiro passo necessário para a solução para a
crise fiscal, a proposta começa a receber algumas críticas. São três os
principais questionamentos:
1) O reajuste das despesas da União
com base na inflação do ano anterior. Nesse ponto, há ressalvas de dois
lados. Uns consideram que limitar gastos em geral, agora, significa mais
recessão. Outros, ao contrário, argumentam que utilizar a inflação do
ano anterior para calcular a correção, e não a variação do PIB, não
garante o aperto desejado, pelo menos nos dois primeiros anos;
2)
O prazo de 20 anos para a vigência da PEC. A contestação é que esse
prazo é muito longo, porque amarraria os próximos governos,
comprometendo, inclusive, a formulação dos chamados Planos Plurianuais
de Investimentos;
3) A inclusão de gastos de saúde e educação na
regra geral. Embora o Congresso tenha condições de direcionar mais
recursos para essas áreas, especialistas consideram irrealista essa
possibilidade, simplesmente porque lobbies mais eficientes se sairiam
melhor na distribuição de verbas. Como ironiza um especialista, é mais
ou menos como se o “representante” de uma fila de pacientes do SUS
tivesse de disputar espaço nos gabinetes do Congresso com os lobistas
dos servidores do Judiciário.
Que uma limitação a gastos vai sair
dessa discussão, não há dúvida. Mas dificilmente será a PEC dos sonhos
da equipe econômica. O relator da proposta, deputado Darcísio Perondi
(PMDB-RS), promete fechar o relatório na semana que vem e o presidente
da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), fala em iniciar a votação em outubro.
Henrique
Meirelles e Maia bateram forte ontem na “herança maldita” da política
econômica de Dilma. E usaram como exemplo os Estados do Norte e
Nordeste, cujos governadores ameaçaram decretar calamidade pública na
semana que vem, caso não recebam ajuda de R$ 7 bilhões. Mas eles sabem
que, se problemas como esse dos Estados põem às claras o custo do
descontrole fiscal do passado, significam também mais pedras no caminho
do ajuste futuro.
extraídadeavarandablogspot




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