EDITORIAL ESTADÃO
Na
fábula de Esopo, depois de muito estrondo a montanha pariu um rato.
Dilma Rousseff repetiu a proeza com a divulgação da “mensagem” com a
qual pretende convencer de sua inocência o mundo
Na fábula de
Esopo, depois de muito estrondo a montanha pariu um rato. Dilma
Rousseff repetiu a proeza com a divulgação da “mensagem” com a qual
pretende convencer de sua inocência o mundo e especialmente os senadores
que vão decidir sobre o impeachment no fim do mês. Mas, depois de tanta
hesitação, Dilma acabou escolhendo um mau momento para falar de
inocência e se apresentar, mais uma vez, como uma mulher honesta, pois,
simultaneamente, o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou o Ministério
Público a abrir inquérito contra ela, o ex-presidente Lula, os
ex-ministros Aloizio Mercadante e José Eduardo Cardozo e dois ministros
do STJ, destinado a investigar a tentativa de obstrução da Justiça no
âmbito da Operação Lava Jato.
Na mensagem lida no Palácio da
Alvorada, a presidente afastada reitera, candidamente, seu “compromisso
com a democracia e com a necessidade da “superação do impasse político
que tantos prejuízos já causou ao País”. Parecia estar falando de um
outro país e de outra pessoa que não ela, cuja biografia revela total
falta de compromisso com a democracia e a proeza de ter arruinado o
Brasil. Finalmente, fez um apelo patético a seus julgadores: “Não se
faça a injustiça de me condenar por um crime que não cometi”. A uma
plateia de jornalistas a quem proibiu de fazer perguntas, Dilma repetiu a
necessidade de “diálogo”, defendeu um plebiscito e a delirante ideia da
antecipação das eleições presidenciais. Distanciou-se assim, ainda
mais, da Nação e até da posição oficial do PT. Promete, agora,
comparecer ao Senado para defender-se pessoalmente.
O melancólico
evento mostrou ao País exatamente a mesma Dilma cujos defeitos seis
anos na Presidência da República só fizeram acentuar: a arrogância, a
teimosia, a hipocrisia mal disfarçada na tentativa de parecer humilde, a
falta de senso crítico que a impede de se ver como responsável por
erros e omissões graves cometidos no catastrófico exercício da
Presidência da República. Quando, logo nas primeiras linhas, menciona o
“impasse político que tantos prejuízos causou ao País”, fala sobre
sujeito indeterminado para não ter que admitir o seu autoritarismo
empedernido que envenenou as relações do Executivo com o Legislativo e,
depois, com toda a Nação.
O argumento central da defesa de Dilma
no processo de impeachment, por ela insistentemente repetido na tal
carta, é o de que, como presidente da República, não cometeu nenhum
crime de responsabilidade e não pode ser julgada pelo “conjunto da
obra”. O julgamento do impeachment pelo Parlamento, no entanto, é
essencialmente político, sustentado pela comprovação jurídica do crime
de responsabilidade. No caso de Dilma o crime de responsabilidade foi
reconhecido, por ampla maioria de deputados e senadores, nas votações de
admissibilidade do processo.
A defesa tem, é claro, o direito de
alegar que não houve crime e tentar provar isso. Cabe aos jurados, no
caso os senadores, em sessão presidida pelo chefe do Poder Judiciário,
decidir pela culpa ou pela absolvição. Trata-se, portanto, não de um
golpe, mas de um procedimento público – na verdade, escancarado – regido
pela Constituição e pelas leis e que segue rito determinado pelo Poder
Judiciário.
Mas esse está sendo um julgamento essencialmente
político, alega Dilma. É claro que é, pois se refere a um crime de
responsabilidade. Os crimes de responsabilidades imputados à presidente
são inexpressivos, protestam os dilmistas. As pedaladas fiscais e a
liberação de recursos sem autorização prévia do Congresso objetos do
processo não são fatos isolados nem corriqueiros. Foram violações
flagrantes da lei que constituem, na verdade, o modus operandide um
governo autoritário que desprezava o papel constitucional e as
finalidades precípuas do Parlamento como órgão da soberania nacional e
de representação do povo.
A patética manifestação epistolar de
Dilma Rousseff é um conjunto de frases feitas, tiradas retóricas,
expressões piegas. De platitudes e obviedades que inevitavelmente
assomam em discursos políticos que, por falta de conteúdo fático e
genuinamente programático, abusam de falsidades demagógicas na tentativa
de conquistar o ouvinte pela emoção. Mas a paciência do povo brasileiro
com o ilusionismo lulopetista está esgotada.
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