RUY CASTRO Folha de SP
Se bom ou mau, só se saberá quando publicar seu romance ou livro de contos —se chegar a publicá-lo.
Mas nada o livrará de ter de lutar minimamente pela subsistência, e o ideal seria achar um emprego compatível com a criação literária. Daí, sugeri-lhe aquele que, segundo William Faulkner, autor de "Santuário", era o emprego ideal para um escritor: o de gerente de bordel.
É um lugar, disse Faulkner, onde se pode dormir (quartos não faltam), comer e beber no emprego. Não há muito que fazer - no máximo, cuidar de que os impostos sejam pagos em dia e ir mensalmente à delegacia para contribuir com o fundo de pensão da polícia. O bordel é sossegado pela manhã, que é a melhor hora para escrever. À noite, a vida social é intensa, e o sujeito pode participar dela, se quiser. Além disso, tanto os clientes quanto as meninas são potenciais fornecedores de material para seu livro.
É também um emprego, continua Faulkner, que garante ao sujeito um relativo status em sociedade. Todos os inquilinos da casa são mulheres e o tratam com deferência. Idem quanto aos fornecedores de bebida, que dependem do seu aval sobre as falsificações. E o próprio delegado será alguém a quem ele poderá chamar pelo apelido ("Bolão") e até dar tapinhas na barriga.
Faulkner não disse, mas o risco nessa história é o sujeito se apaixonar pelo emprego e desistir da literatura. O que talvez não seja má ideia.
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