e outras cinco notas de Carlos Brickmann
É para aparecer bem no filme que Dilma fará um discurso emocional, talvez com choro no fim. Congela-se a imagem logo após uma declaração de amor ao Brasil, à democracia, à justiça social. Sobre a imagem congelada, um texto em letras bem grandes dirá que a democracia perdeu uma batalha, mas Dilma e Lula continuarão lutando para restabelecê-la no Brasil. A última cena talvez traga local e data. Quem assistir, vestido de vermelho, gritará algo como “A luta continua” ou “No pasarán”.
Sempre que essa expressão for usada, saiba que já passaram.
Os sem-filme
A CUT informou a Dilma que não terá como encher de militantes a Esplanada dos Ministérios, por falta de dinheiro. Ou seja, depois que os companheiros deixaram o Governo, cessou o fluxo de recursos e hoje não há como investir nem nos ônibus, nos sanduíches e no Dolly?
Fora do ar
Júlio Marcelo de Oliveira, procurador do Tribunal de Contas da União, ouvido como informante no processo contra Dilma, pronunciou uma frase notável (que é melhor guardar de memória, porque no filme não deve entrar): “O dolo grita nos autos. Se a presidente da República não tiver responsabilidade sobre decretos e medidas provisórias, porque foram elaborados pela sua equipe, ela não vai ter responsabilidade sobre nada. Essa é uma tese da irresponsabilidade do governante”.
Jogando o destino
De todos, Lula é quem tem os problemas mais sérios. A Polícia Federal o indiciou, ao lado da esposa Marisa Letícia e do presidente do Instituto Lula, Paulo Okamoto, no inquérito sobre o apartamento triplex do Guarujá. O enquadramento ocorre por corrupção, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. Ao indiciar alguém, a PF considera que há motivos suficientes para considerar que pode ter cometido um crime. Mas é uma etapa inicial do processo, que ainda passa pelo Ministério Público e Justiça. Lula é também alvo de três investigações da Lava Jato em Curitiba.
Por isso é que Lula chefiará a luta contra o impeachment. Para ele, é essencial, nessa hora, aparecer bem no filme.
O palco é a vida
Não dê importância para as críticas do PSDB às medidas econômicas do presidente Temer, nem para as ameaças de rompimento dos tucanos com o Governo. Não vão romper, não. Nem vão fazer mais que oposição barulhenta, porém superficial, ao aumento dos ministros do Supremo para quase R$ 40 mil mensais, “enquanto não há dinheiro para melhorar o que ganham os aposentados”. Em caso de emergência, quem julga os políticos não é o aposentado. Tucano pode cometer muitos erros, mas não é louco.
Há poucos dias, três caciques tucanos – Aécio, Aloysio Nunes e Antônio Imbassahy – jantaram com o presidente Temer e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Foi um longo encontro, de suas três horas. E ninguém criticou medidas econômicas, nem se opôs a aumentos salariais. Isto é que é ficar no muro: criticar em público e calar-se na hora correta de falar.
A vida real
O caro leitor provavelmente já teve oportunidade de assistir ao horário eleitoral gratuito, que começou na sexta-feira. Uma informação importante: não é gratuito. As emissoras cobram tabela cheia do Governo – que, embora seja cliente importante, deve ser o único a pagar o preço de tabela sem desconto. Este preço é tirado dos impostos que a emissora deveria pagar. Os candidatos não pagam pelo tempo, mas uma boa parte dos gastos da campanha ocorre na produção do programa eleitoral. Já a população paga duas vezes: cobrindo os impostos que as emissoras deixam de pagar e aguentando assistir a serviços de Primeiro Mundo que só existem aqui nas animações da TV. Enfim, serão 10 minutos de cada vez, divididos entre os candidatos. Na TV, das 13h às 13h10 e das 20h30 às 20h40. No rádio, das 7h às 7h10 e das 12h às 12h10. Divirtam-se!
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