por Percival Puggina
Mas não foram apenas forças oblíquas e fatídicas as tecelãs dos fios que nos arrastam ao dia 29 de agosto. Não! Até nossas míseras e mal concebidas instituições acabaram por trazer à superfície o submundo do governo petista, numa continuidade que remonta ao início do primeiro mandato de Lula e ao mensalão, que outra coisa não foi senão a primeira pipoca a explodir na escabrosa pipoqueira da gestão petista nos negócios nacionais. Foi desse submundo que vieram, para as campanhas eleitorais dos partidos ligados ao governo, especialmente para as eleições presidenciais, os recursos tomados pelo aparelho criminoso que conjugou esforços para consolidar seu projeto de poder. No conjunto da obra, sobre a qual a senhora do banco dos réus não quer ouvir menção, não podemos desconsiderar a ilegitimidade dos meios financeiros que foram proporcionados ao partido. Nem o desequilíbrio que isso proporcionou às suas campanhas mediante a laboriosa e continuada ação de tesoureiros, operadores, doleiros e marqueteiros.
O mandato de que tanto se orgulha a senhora do banco dos réus está coberto de infâmia. A titularidade do poder não deveria ser colhida mediante meios mal havidos, não poderia ser produto da mentira nem da dissimulação. Tivesse minimamente dito a verdade à nação durante o pleito de 2014, ela jamais teria sido reeleita. E não lhe faltaram oportunidades, nos debates que antecederam à eleição, de pôr um fim à ocultação e permitir que o povo brasileiro conhecesse a realidade cuidadosamente escamoteada.
Ao medir-se com a régua de Cunha, ao se comparar com ele, a senhora do banco dos réus não se homenageia. Bem ao contrário, escolhe um parâmetro terrível. Mais um passo e comparará seu governo com o Comando Vermelho. Embora tenha escalado Eduardo Cunha para ser seu Inimigo Número 1, há outros adversários que habitam dentro de si e no grupo político com o qual se foi afinando ao longo dos anos. Refiro-me, especialmente, a uma ideia fraturada de democracia, que transforma o regime num conjunto de cacos em conflito e a uma doutrina que vê o poder como objeto de conquista, não como serviço. Esse ânimo marcou seu governo e se expressou em todas as manifestações que produziu desde o banco dos réus. Seu infausto governo - que vê perfeito e irretocável! - não teria cometido um erro sequer que reconheça. E a tempestade em que nos meteu seria consequência aziaga de fatores externos. Reitera-se aqui, ante os olhos e os ouvidos da nação, a velha desafeição à verdade. Se os fatores apontados têm existência real, também é verdadeiro que independentemente deles, a economia mundial continuou e continua crescendo, enquanto a nossa, embalada pelas estratégias eleitorais petistas, entrou em profunda recessão. E o conjunto da obra que ela descreve se desfaz em ruínas.
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