Lula precisava de uma boa gerente. Por Riella/HELDER CASTRO
Quando desembarcou em Brasília, pela mão de Lula, pouco ou nada se sabia de Dilma. ...Como quase sempre acontece numa capital construída para ser o centro da administração pública, os segredos são apenas um figura de estilo. Dificilmente se mantêm.
Lula precisava de uma boa gerente. Quadros políticos tinha de sobra. Dilma parecia ser uma boa executora, pelo menos assim a apresentava, e os traços de autoritarismo que impregnam a sua personalidade davam lhe a imagem de eficácia administrativa que o ex-presidente tanto precisava.
E tinha outra vantagem: não vinha do ninho petista. Dilma tinha passado do radicalismo esquerdista militante na ditadura dos generais ao centrismo político, mais ou menos populista, do PDT criado por Brizola.
Depois foi o que se sabe. Concluído o seu segundo mandato, Lula viu em Dilma a sucessora ideal. A herdeira que cumpriria um ou dois mandatos, devidamente orientados, até ao seu regresso ao poder.
Frequentemente, mesmo os melhores planos falham. A farra despesista, a fuga em frente, as trafulhices políticas, os mensalões, os desmandos, o populismo perverso, a banalização da corrupção política foram os ingredientes de um coquetel explosivo que abriu caminho ao desastre.
Dilma, politicamente frágil, sem o arcabouço do seu mentor, não foi capaz de inverter o caminho do desastre. Pelo contrário, arrogante, cega e surda aos alertas que foram sendo feitos, por gente ideologicamente de esquerda, de uma esquerda marxista, não populista, acreditou que seria ela uma nova salvadora da pátria.
Como Lula acreditava ser e, aliás, ainda aposta em fazer constar, talvez numa derradeira tentativa de constranger adversários.
Dilma Rousseff, guiada pelo afã de se manter no poder, a ela e aos amigos políticos, numa estratégia de blindagem, lançou-se numa corrida sem regras e sem limites. E foi assim, ludibriando o país com promessas e metas inexequíveis de crescimento, despejando sacos de subsídios saídos de cofres públicos, que se fez eleger para um segundo mandato.
Acreditou, ou fez que acreditava, que o poder do seu grupo estava blindado pelo povo. Mas não estava. E quando a derrota política se consumou, as ruas mostraram a dura realidade. As ruas responderam aos apelos de Dilma, de Lula e da cúpula petista com o esvaziamento.
O que são manifestações de cinco, dez ou vinte mil pessoas numa cidade de dezesseis milhões com é São Paulo?
O que são protestos contra o chamado golpe – farsa que procurou construir para consumo internacional – em cidades da cintura industrial, como São Bernardo do Campo, berço sindical de Lula, que não mobilizaram mais que cinco ou dez mil pessoas – sendo generoso nas estimativas -, conforme os casos? Sem metralhadoras nas ruas, sem baionetas, sem cães-policias, sem esbirros das polícias ditatoriais.
Dilma vai enfrentar dia 29 os senadores, na última etapa do processo de impeachment. Será condenada a perder o mandato e os direitos de exercício de cargos públicos por oito anos, a contar de 2018, ou os senadores, por maioria de dois terços, decidirão pelo arquivamento do processo, voltando assim Dilma ao Palácio do Planalto.
Embora não seja absolutamente impossível – os parâmetros da política brasileira são bastante diferentes daqueles que ainda marcam os europeus – não creio que seja este o caminho que o Senado seguirá. No mínimo, por instinto de preservação.
Afinal, muitos dos augustos senadores, que até há poucos meses atrás integravam a turma do poder, sabem que o tempo de Lula e Dilma se esgotou.
A vigarice política paga-se caro, mesmo quando se veste de roupagens populistas. Mas, como sempre acontece, quem paga mais caro são os trabalhadores, os assalariados, os pequenos empresários, os quase 12 milhões de pessoas que passaram a fazer parte do exército de desempregados.
A expectativa é que o impeachment e a continuação da luta contra a corrupção possam ajudar o país a construir um sistema político e partidário mais democrático, mais participado. (Do site Portugal Digital)
extraídadeblogdosombra
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