Isabela Bonfim - O Estado de S.Paulo
Ex-ministro da Justiça e atual advogado da presidente Dilma Rousseff,
José Eduardo Cardozo, que também já foi deputado pelo PT, avalia que o
partido precisa fazer uma reflexão. "O PT tem um papel na história do
Brasil que não pode ser desprezado. É muito importante que o PT faça uma
reflexão, avalie os seus erros. O PT precisa, sem mudar de lado,
repensar o seu posicionamento na democracia", disse o advogado em
entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura.
Cardozo analisa que o partido ganhou uma fama negativa ao tentar coibir a
corrupção, o que para ele é um dos principais legados do governo de
Dilma Rousseff. "Quando um governo ousa enfrentar a corrupção, ele
recebe diretamente o peso e o impacto de seu combate. Quando um governo
não barra investigações, não se há engavetadores, como houve no passado,
quando ele deixa a coisa fluir, cria leis, ele paga um preço por isso",
afirmou.
Para o advogado, o PT não é a raiz da corrupção no País e o Brasil
possui um problema institucional, dentro do sistema político. "Tenho
vergonha do sistema político brasileiro. O sistema gera corrupção, os
partidos entram no jogo e as pessoas caem no jogo. Ou nos
conscientizamos que temos que mudar, ou iremos demonizar o partido A ou
B, quando o demônio está nos sistema."
Impeachment. O
advogado também comentou a reta final do processo de impeachment de
Dilma Rousseff, cujo julgamento se iniciará nessa quinta-feira. Cardozo
avalia como positiva a ida da presidente ao Senado para depor, apesar
das críticas de senadores tucanos, que afirmam que, caso ela esteja
presente, irá legitimar o processo que chama de golpe.
"Se fosse correta essa visão, nem advogado deveria ter. Temos que usar o
processo para denunciá-lo, usar o golpe para mostrar a farsa que se
constrói. Esse é o papel que temos nesse processo, se não conseguirmos
revertê-lo", afirmou.
O advogado reiterou a tese de golpe de Estado e a ausência de crime de
responsabilidade no processo contra Dilma. Em sua leitura, a presidente é
vítima de uma confluência de forças, de um lado aqueles que não
aceitaram ter perdido as eleições de 2014, e do outros aqueles que estão
insatisfeitos com o avanço da operação Lava Jato.
Somado a isso, Cardozo acredita que Dilma também sofreu com um
conjuntura internacional que agravou a crise econômica e que aqueles que
arquitetam o processo de impeachment usam a questão econômica e a baixa
popularidade da presidente de forma oportunista.
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