Jornalista Andrade Junior

sábado, 27 de agosto de 2016

Página virada -

FÁBIO ALVES ESTADÃO

Na última pesquisa Focus divulgada pelo Banco Central antes de a Câmara dos Deputados aprovar a instauração do processo de impeachment de Dilma Rousseff, em 17 de abril, os analistas projetavam um crescimento de apenas 0,30% do Produto Interno Bruto (PIB) para 2017. Na Focus desta semana, quando o Senado começa a votar se afastará Dilma definitivamente do cargo, a estimativa do PIB do ano que vem é de uma expansão de 1,20%.

Ou seja, apenas de abril para cá, os analistas melhoraram em quatro vezes a expectativa em relação ao desempenho da economia brasileira em 2017. E isso reflete apenas a mediana das estimativas, pois há quem projete um crescimento acima de 2,1% no ano que vem, enquanto a previsão do Ministério da Fazenda é de uma expansão de 1,6%.

Houve uma virada tão significativa do ciclo econômico para corroborar tal otimismo dos analistas para 2017? A maior parte das revisões para cima do PIB do próximo ano desde a pesquisa Focus em abril, uma vez que a recessão em 2016 já estava praticamente contratada, refletiu a esperança de que a saída de Dilma e do PT do poder resultaria numa correção drástica nos rumos da economia. Mais ainda: que o governo de Michel Temer atrairia os investimentos que foram desaparecendo desde 2011, quando Dilma foi eleita presidente pela primeira vez. A avaliação era de que a equipe econômica de Temer, liderada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, adotaria um ajuste fiscal que colocaria sob controle as contas do governo, trazendo a dívida pública para uma trajetória sustentável. Para isso, esperava-se, antes de o peemedebista assumir interinamente o comando do País, que ele contaria com uma base aliada para aprovar as medidas amargas – aliás, base que deserdou Dilma ao longo do tempo.

A rejeição à petista e a expectativa de uma mudança nos rumos macroeconômicos injetaram uma dose de confiança em consumidores e empresários. E, sem confiança, fica praticamente impossível a retomada do consumo e do investimento. Foi isso que acelerou a piora da atividade econômica durante o mandato de Dilma. Nos últimos meses, os índices de confiança vêm reagindo e deixando para trás os patamares históricos de baixa registrados no ano passado, no auge da crise. Ontem, por exemplo, a Fundação Getúlio Vargas informou que o Índice de Confiança do Consumidor atingiu 79,3 pontos em agosto, maior nível desde janeiro de 2015.

Passado o julgamento final do impeachment, confirmando-se Temer no cargo até 2018, até quando o otimismo com a troca de governo sustentará os índices de confiança, puxando para cima, por tabela, as projeções do PIB de 2017? Obviamente, o ambiente de farta liquidez internacional contribuiu, em parte, para melhorar as expectativas em relação ao desempenho da economia brasileira. O dólar recuou frente ao real, diminuindo a pressão sobre a inflação. Todavia, para uma melhora adicional dos índices de confiança e das estimativas de crescimento do PIB em 2017 será necessária a aprovação de um ajuste fiscal.

A confiança com a correção de rumos que a troca de governo ensejava foi apenas a fagulha inicial, na avaliação de analistas. Sem a aprovação da proposta de emenda constitucional (PEC) que limita o crescimento dos gastos públicos à variação da inflação do ano anterior, esse otimismo terá vida curta. E se essa PEC chegar para a votação no Congresso diluída, isto é, sem incluir as áreas de saúde e educação no teto de gastos, o humor poderá azedar. Também será essencial a aprovação de uma reforma da Previdência que contemple uma idade mínima de aposentadoria de 65 anos e uma desvinculação dos benefícios do salário mínimo.

O afastamento definitivo de Dilma já é considerado página virada para os investidores. É preciso agora que haja ações concretas de Temer para ajustar as contas públicas, auxiliando no controle da inflação e permitindo uma redução dos juros pelo BC. Sem isso, a melhora desde abril nas estimativas de crescimento do PIB em 2017 vai parecer prematura.




















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