MÍRIAM LEITÃO O Globo
Oprefeito Eduardo Paes diz que vai relaxar só quando acabar, mas afirma que está tudo indo muito bem: — Quero confessar que sempre acreditei nisso tudo. Sabia que estávamos trabalhando para dar tudo certo, acreditava na capacidade de celebrar do brasileiro, sabia que havíamos investido para que o Parque Olímpico, a Orla Conde, o Boulevard, o BRT atendessem às expectativas.
O incidente Ryan Lochte produziu forte reação, mas na categoria nadador americano o que ficará mais forte na lembrança foi termos visto um gigante como Michael Phelps nadar entre nós e aqui se despedir das Olimpíadas. Ontem, pela rede social, ele mandou recado carinhoso aos milhões de brasileiros que vibraram com ele, dizendo que está com saudades. E já estamos com saudades também.
O problema que houve com a delegação da Austrália, que encontrou as instalações sem condições de serem ocupadas, causou constrangimento, mas o prefeito acha que acabou sendo um daqueles males que vêm para o bem:
— Foi um problemão, mas foi um sinal de alerta para que pudéssemos rechecar todos os procedimentos.
O país ainda faz uma contagem regressiva para ter certeza de que tudo dará certo até o final e poder escrever, como Phelps, #amazingolympics, Olimpíadas fantásticas. Por enquanto, é evidente que a piscina verde, as filas para comida e para a entrada nas arenas e a falsa comunicação de um crime de assalto a mão armada são eventos menores diante do que deu certo. Trágico mesmo foi a morte de um policial da Força Nacional, que nos lembra o velho drama no Rio na área de segurança.
Sobre as cidades olímpicas, pairam sempre alguns fantasmas e um grande sonho. O desejo é de repetir Barcelona, os temores são repetir Atenas e Montreal. O que houve no Centro do Rio lembra o que aconteceu em Barcelona, que aproveitou os Jogos para remodelar a cidade. Mas e os outros dois exemplos ruins? Vamos repeti-los? O prefeito garante que não.
Para evitar o que houve na Grécia, que fez instalações esportivas sofisticadas que não tiveram serventia depois, o prefeito garante que tudo foi pensado antes para saber o que fazer depois:
— O parque aquático vai virar dois ginásios com piscinas; o handebol será quatro escolas; a Arena 3 será uma escola municipal no local, em tempo integral e preparada para a prática de esportes; a Arena 2 será um centro de treinamento para atletas de alto rendimento; a Arena 1 será concedida ao setor privado. Em Deodoro, o parque aquático será usado pela comunidade e o posto médico montado no local vai virar uma clínica.
O fantasma Montreal é o de ficar com uma dívida que se arrasta no tempo, fruto dos investimentos feitos na preparação para os Jogos.
— Não há dívida de estádio e eles ficaram mais baratos em R$ 11 milhões do que o preço inicialmente orçado. A dívida da prefeitura, que em 2009 era de R$ 13 bilhões e 90% da Receita Corrente Líquida, é hoje de R$ 10 bilhões e 30% da Receita — diz o prefeito.
Essa queda se deve em parte a uma operação de swap feita com o Banco Mundial e a renegociação da dívida dos estados e municípios feita pelo governo Dilma, que aceitou trocar o indexador e reduzir os juros.
O que Paes quer deixar claro é que houve muito trabalho para que os Jogos dessem certo como empreendimento:
— Não é fruto do jeitinho brasileiro, é resultado do trabalho, planejamento do setor público, do esforço do setor privado. O plano de mobilidade foi estudado durante dois anos. A operação dos Jogos foi elaborada com antecedência. Claro que na hora da contingência entra a capacidade de improviso do povo brasileiro, mas a Olimpíada do Rio não foi feita com jeitinho.
Vivemos dias frenéticos, oscilando num turbilhão de emoções, mas o que foi ficando claro a cada disputa é que o Rio estava vencendo a Olimpíada de 2016.
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