Marcelo de Moraes - O Estado de São Paulo
Decisão de Cunha de autorizar o pedido de abertura do impeachment fragiliza ainda mais o governo petista já abalado pelo efeito das investigações da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, e, sobretudo, pela gravíssima crise econômica.
Menos de um ano depois de assumir seu segundo mandato presidencial,
Dilma Rousseff corre o risco real de ser retirada do Palácio do Planalto
por conta de um processo de impeachment. A decisão tomada nesta
quarta-feira, 2, pelo presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), de autorizar o pedido de abertura do impeachment contra ela,
fragiliza ainda mais o governo petista já abalado pelo efeito das
investigações da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, e, sobretudo,
pela gravíssima crise econômica.
Com órgãos do governo e aliados envolvidos diretamente com acusações de
corrupção, Dilma viu sua popularidade se desmanchar meteoricamente desde
a posse em janeiro. Somando isso com o quadro de forte retração na
economia, aumento sensível do desemprego e paralisia das ações do
governo, o cenário ficou preparado para um desastre político. O que
parecia ser uma tempestade perfeita já se transformou numa espécie de
apocalipse do governo petista.
Embora negue, Cunha negociou até o último instante com governo e PT uma
espécie de troca. Se ajudassem a salvar seu mandato, não aceitaria o
pedido de impeachment. Não houve acordo e o presidente da Câmara, que
luta desesperadamente para salvar a própria pela, decidiu disparar na
direção da presidente.
A consequência imediata do pedido é a paralisia do governo. A partir de
agora, Dilma e seus aliados vão se concentrar apenas em captar votos
para barrar o impeachment. Com isso, também foi dada a largada para a
nova temporada do balcão do toma lá dá cá do Congresso.
Mesmo ainda tendo a caneta na mão, esses votos são uma incógnita. O
problema é que o peso da opinião pública é sempre muito relevante nessas
discussões. Antiga máxima de Brasília diz que políticos até carregam a
alça do caixão de um colega que caiu em desgraça. Mas jamais serão
descerão à sepultura com ele. Foi assim com o senador Delcídio Amaral
(PT-MS), que, na semana passada, precisou do apoio dos colegas no Senado
para ter relaxado seu pedido de prisão pela Lava Jato. Líder do
governo, popular e admirado pelos colegas, Delcídio viu até mesmo
companheiros de partido votarem contra ele. Com a imensa pressão popular
pela manutenção da prisão de Delcídio, a maioria dos senadores não quis
correr risco de se desgastar.
Fragilizada politicamente e com baixíssimo apoio popular, Dilma terá
agora o grande desafio de amarrar um amplo arco de alianças disposto a
apoiar a manutenção do seu mandato. Sem nunca ter tido paciência para
negociações desse tipo, precisará mais do que nunca convencer os
parlamentares a lhe apoiarem. Afinal de contas, está nas mãos dessa
turma o futuro de seu governo.
extraídaderota2014blogspot
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