por Paulo Guedes O Globo
A semana marcou extraordinário êxito dos senadores que se esforçam pela
construção de uma Grande Sociedade Aberta em terras brasileiras. A velha
política foi fragorosamente derrotada apesar do desavergonhado e
constrangedor empenho de seus notórios representantes. As práticas
fisiológicas do Legislativo e as tentativas de abafamento das
investigações e de influência sobre os julgamentos no Judiciário são a
essência dessa velha política. A imunidade parlamentar para proteção da
opinião política não poderia ser confundida com a impunidade parlamentar
para a obstrução da Justiça.
O turbilhão dos eventos, as gravações, as prisões e o caos aparente
revelam, na verdade, uma nova ordem inteligível e benigna em formação.
“Não é o acaso que domina o mundo”, registrava Montesquieu em suas
“Considerações sobre as causas da grandeza e da decadência dos romanos”
(1734). “Os acidentes do acaso acontecem. Mas não é possível evitar
fatos que nascem continuamente da natureza das coisas”, alertava o
filósofo em “O espírito das leis” (1748).
Em busca da inteligibilidade dos fatos em meio ao caos, o formidável
Raymond Aron formula, em “As etapas do pensamento sociológico” (1967), o
princípio subjacente às duas citações de Montesquieu: “É importante
captar, por trás da sequência aparentemente acidental dos
acontecimentos, as causas profundas que os explicam.”
O despertar do Poder Judiciário anuncia novos tempos. O julgamento da
História se debruça ante o acúmulo de evidências de corrupção sistêmica.
A velha ordem teme as prisões e recua em fuga rumo às sombras. Ergue-se
à frente de suas práticas degeneradas a dinâmica de comunicações de uma
sociedade aberta em evolução. O fisiologismo dos parlamentares e a
cumplicidade do Judiciário tornam-se apostas anacrônicas contra o
inevitável aperfeiçoamento de nossas instituições. Ignoram a voz das
ruas.
Após décadas de escândalos e roubalheira, a opinião pública já tem a desconcertante percepção de que o establishment trabalha
pela impunidade. Mas a vigilância da mídia, a informação em tempo real
nas redes sociais e o fervor republicano de uma democracia de massa
reforçam um novo Poder Judiciário, consciente de sua independência e
suas responsabilidades em busca de nosso aperfeiçoamento institucional.
extraídaderota2014blogspot
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