por Mary Zaidan Com Blog do Noblat, Veja
Julgar se algo pode ser julgado para depois julgar o adiamento do
julgamento, e acabar por julgar em favor do réu sem julgar o mérito
daquilo que julgaram que deveria ser julgado. Definitivamente não dá
mais para esconder: a Suprema Corte perdeu o juízo.
Há muito abandonara o decoro e o respeito – as recentes cenas de
pugilismo verbal entre os ministros Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes
são só mais uma arenga no rol de bate-bocas e desacatos. Agora,
desfaz-se da razão. Tudo em nome do paciente.
Ainda que contemplada nos dicionários e usual no linguajar jurídico, a
terminologia é no mínimo curiosa. Luís Inácio Lula da Silva pode ser
tudo, menos paciente. Em qualquer acepção da palavra.
Lula é réu, condenado em duas instâncias, com sentença de 12 anos e um
mês para cumprir. Só que, ao contrário da maioria esmagadora, é tratado a
pão-de-ló pela Justiça.
Não apenas agora, quando pode furar a fila e ter um habeas corpus
apreciado pelo STF antes de presos que ainda não foram julgados em
instância alguma. E ainda sair do não julgamento com um inédito
salvo-conduto que os 236,1 mil presos provisórios adorariam ter. É
privilegiado sempre.
Percorre o país afora em deslavada campanha eleitoral antecipada e
ninguém dá um pio, transforma auditório de universidade pública em
palanque, como fez em Bagé, e nada. Xinga promotores e juízes a bel
prazer sem responder um processo sequer.
Não tem e nunca teve apreço algum pelas leis.
Quando presidente da República, protagonizou um quase inacreditável “F… à
Constituição”, ao ouvir que não poderia expulsar do Brasil o
correspondente do New York Times, Larry Rother, que tornou pública suas
bebedeiras.
Ministros do Supremo não chegaram a tanto, mas têm demonstrado desdém
semelhante com a Carta que têm, por dever de ofício, de proteger.
Não são raras as decisões monocráticas contrárias às deliberações
coletivas – a possibilidade de prisão em segunda instância é uma delas,
aprovada no pleno por três vezes, a última há menos de dois anos. O STF
patrocinou ainda outras estranhezas, como a suspensão da inelegibilidade
de Dilma, punição constitucional para a deposição de um presidente, ou a
semi-cassação de parlamentares. Além de se arvorar em substituir o
Executivo.
Agora, depois da salvação temporária, movimenta-se na busca de fórmulas
para remediar o transtorno da cadeia para seu paciente predileto. Entre
umas e outras vênias, ganhou 12 dias para fazê-lo.
Por enquanto, Lula respira a brisa da impunidade. Cabe aos 11 ministros –
talvez 10, já que a presença de Gilmar Mendes no dia 4 é uma incógnita –
manter ou inverter o vento. Vale lembrar que o empate beneficia o réu,
ou no português das excelências togadas, o paciente.
Mary Zaidan é jornalista
extraídaderota2014blogspot
0 comments:
Postar um comentário