por Paulo Briguet
(Publicado originalmente na Folha de Londrina)
Reza a lenda que na antiga corte do rei da França o jovem príncipe nunca apanhava se cometia alguma peraltice. Quando o herdeiro era pego em alguma falta, os tutores escolhiam algum dos amiguinhos do príncipe para apanhar no lugar dele. O objetivo desse estranho procedimento era impressionar e corrigir o herdeiro do trono com os gritos de uma criança inocente.
A história do príncipe que não apanhava foi contada pelo Padre José Kentenich aos seus alunos do Seminário Palotino de Vallendar (Alemanha), em 1912. Consta que os alunos ficaram escandalizados com o costume da antiga corte francesa, qualificando-o como ato bárbaro. Neste momento, Kentenich virou-se para os jovens e disse:
— Mas esta cena se repete todos os dias em nossa vida!
Na verdade, a situação na corte da França — explicou o mestre — era menos injusta. O príncipe ao menos ouvia os gritos do bode expiatório; nós somos surdos a eles. A cada vez que cometemos uma falta, uma negligência, uma mentira, uma omissão ou um pecado, alguém sofrerá em algum lugar do mundo. Mas nós muitas vezes ignoramos completamente a situação da vítima. São gritos silenciosos.
Nosso país está vivendo um pesadelo. O professor Olavo de Carvalho tem insistindo sobre isso há muitos anos, e poucos lhe dão ouvidos!
Um brasileiro é assassinado a cada nove minutos (são 70 mil mortes por ano, mais do que países em guerra declarada). Profissionais de categorias ideologicamente "incorretas", como policiais e agentes penitenciários, são mortos como moscas. Em 2017, só na cidade do Rio de Janeiro, foram assassinados 91 policiais, and counting. O número de roubos, assaltos e estupros é igualmente terrificante.
Quatorze milhões de nossos irmãos perambulam à procura de um emprego. Trabalhamos, todos nós, cinco meses do ano para financiar uma enorme máquina ineficiente, voraz e corrupta — e mesmo assim o governo temeroso ainda aumenta os impostos da gasolina.
O QI médio da população brasileira vem caindo progressivamente, em consequência das desastrosas políticas educacionais. Militantes universitários vêm produzindo, através da lavagem cerebral ideológica, uma legião de analfabetos politizados (algo jamais sonhado por Bertolt Brecht).
O nome disso é genocídio. Mas também pode ser chamado de democídio — o assassinato de um povo —, como o fizeram os promotores Diego Pessi e Leonardo Giardin de Souza no excelente livro "Bandidolatria e Democídio". Temos o genocídio propriamente dito, com os assassinatos; o genocídio econômico, com o desemprego e o estrangulamento da atividade empreendedora; e, por fim, o genocídio cultural e intelectual. Este último produz um exército de mortos-vivos prontos a falar, agir e votar conforme as ordens do Grande Companheiro. Mas, como já disse Olavo, o pior é o primeiro: pois, para deixar de ser pobre e burro, você precisa estar vivo.
As vítimas dos três democídios brasileiros estão gritando. Quando as ouviremos?
extraídadepuggina.org
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