por Ives Gandra da Silva Martins O Estado de São Paulo
A máquina estatal brasileira é gigantesca. Uma federação é sempre mais
onerosa para os cidadãos que o Estado unitário, por necessitar, na
autonomia dos entes federados, uma escala intermediária de poder, que
são os Estados, províncias, cantões ou unidades semelhantes. O custo
maior da federação deveria ser compensado por uma maior eficiência
administrativa. No Brasil, esse custo é consideravelmente superior ao da
maioria das federações, pois os municípios, desde 1988, são entidades
federativas, com plena autonomia administrativa, política e financeira.
Infelizmente, a eficiência pretendida – o princípio da eficiência é um
dos cinco princípios fundamentais da administração pública plasmados no
artigo 37 da Lei Suprema – não existe na esclerosada, amorfa e
aparelhada máquina administrativa da maior parte das entidades
federativas, incluída a União Federal, em que a autonomia financeira dos
Poderes Judiciário e Legislativo e do Ministério Público mais a
adiposidade do Poder Executivo tornam a carga tributária brasileira
insuficiente, apesar de elevadíssima, para pagar o custo burocrático e
político do Brasil.
Com efeito, segundo a carga tributária medida pela OCDE em 2014, o Chile
ostentava 19,8% do PIB; a Coreia do Sul, 24,6%; os EUA, 26%; a Suíça,
26,8%; o Canadá, 30,8%; Israel, 31%; e o Brasil, 32,6% – sem contar as
penalidades, que nas execuções fiscais, nos “refis” e parcelamentos
variados a elevam consideravelmente, por força das multas acopladas aos
tributos no País.
É interessante que na faixa entre os 32,42% do Brasil e os 36,1% da
Alemanha (diferencial de 3,68 pontos porcentuais) se encontram países
como Reino Unido (33,26%) e Espanha (33,2%), todos eles com serviços
públicos incomensuravelmente melhores que os do Brasil. Em comparação
com países da América Latina, o Brasil vence Argentina (32,2%), Colômbia
(20,3%), Chile (19,8%), México (19,1%) e Peru (18%). O gasto das
empresas brasileiras para pagar os tributos é, em média, de 2.600 horas
anuais de trabalho – em segundo lugar no mundo em horas trabalhadas está
a Bolívia (1.080); nenhum grande país se encontra entre os dez
primeiros colocados.
Como se percebe, nada obstante ter o maior nível de imposição da América
Latina, o investimento no Brasil é escasso, pois o brasileiro paga
tributos para sustentar a burocracia nos três Poderes, incompatível com o
tamanho das necessidades do País. A carga tributária no Brasil é
elevada porque a carga burocrática e política é enorme, pagando o
brasileiro seus tributos em grande parte para sustentar os privilégios
dos três Poderes, a Federação inchada e a corrupção inerente a todo
sistema político em que ser do governo é tornar-se superior aos comuns
mortais e sofridos cidadãos desta República.
Quando Roberto Campos dizia que o País não corria o risco de melhorar,
apenas diagnosticava que gerar empregos produtivos e úteis para a
comunidade não é a especialidade de burocratas e políticos – pelo menos
no século 21, em que os governos dos últimos 13 anos atolaram o País na
mediocridade administrativa, na corrupção burocrática, na incompetência
política, na ineficiência empresarial, embarcando em projetos
ideológicos fracassados desde o início do século 20. E fazendo as opções
erradas, que fulminaram o prestígio que o Brasil , a duras penas,
adquirira nos fins do século passado.
O pior é que, apesar de os governos de Lula e Dilma terem afundado a
economia nacional, provocando novamente inflação de dois dígitos, o
sucateamento do parque industrial, a perda de competitividade
internacional e o aumento do desemprego – algo que só agora, no governo
Temer, começa a ser recuperado –, além de terem dado total apoio aos
ditadores Chávez, Maduro e irmãos Castro, implodindo o prestígio do
Itamaraty, que fora sempre elevado, em nível mundial, continuam seus
áulicos de costas para a realidade, dizendo que querem voltar ao poder.
Para isso combatem todas as reformas necessárias para que o País saia da
crise, das quais a previdenciária é a mais relevante. Só neste ano o
déficit programado da Previdência é de R$ 270 bilhões, em grande parte
por força dos privilégios de burocratas e políticos dos três Poderes.
Basta dizer que a média de proventos dos aposentados de segunda classe,
os “não governamentais”, é de R$ 1.900 mensais e a dos enquistados nos
três Poderes, R$ 15.800!!!
O próprio carro-chefe da propaganda ideológica dos governos anteriores, o
programa Bolsa Família, foi transformado em sistema de aposentadoria
precoce, quem recebe o benefício não procura emprego para não perdê-lo,
passando a ser mais um estímulo à ociosidade do que um verdadeiro e provisório auxílio a necessitados.
Para crescer o Brasil precisa de seis reformas: trabalhista, já em parte
feita, previdenciária, tributária, administrativa, do Judiciário e
política. Isso para que a adiposidade da Federação encolha, a burocracia
diminua e os privilégios sejam reduzidos, permitindo que a sociedade
possa desenvolver-se.
Enquanto todos desejarem ser burocratas ou políticos, para alcançarem
privilégios que o comum dos cidadãos não tem, o Brasil continuará
patinando. Está cada dia mais longe o país do futuro de Stefan Zweig e,
em vez de se aproximar das grandes potências, terá o seu futuro muito
mais semelhante ao da Venezuela de Maduro.
Desburocratizar, desregulamentar, não atrapalhar a iniciativa privada,
para que ela possa gerar empregos e desenvolvimento, sem ter de rastejar
perante os “regulamenteiros” da Federação – que multiplicam obrigações e
alimentam a corrupção pelas dificuldades criadas –, isso é o que o povo
desta desesperançada nação deseja para voltar a ser o país dos
brasileiros, e não dos detentores do poder. Precisamos de democracia
cidadã, e não de ditadura burocrática.
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