editorial de O Globo
Enquanto se amplia o debate sobre a reforma da Previdência, à medida que
a proposta de mudanças avança no Congresso, há outros temas, de
importância equivalente, que transitam no Legislativo sem chamar a mesma
atenção. E deveriam, como, por exemplo, a reforma política. O assunto
tem um desgaste natural devido à sua presença constante em qualquer
conversa sobre política desde a redemocratização, em 1985.
Já foi até chamada de a “mãe de todas as reformas”, pelo pressuposto
correto de que um Legislativo com elevado pedigree de representatividade
teria melhores condições de executar as mudanças de que o país
necessita. Mas a vida real tem seus desígnios. A sociedade saiu da
ditadura militar ansiosa por liberdade, compreensivelmente, refratária a
qualquer ato de teor autoritário, e isso se refletiu na Constituição de
88, bem como em toda revisão do arcabouço legal.
Por inevitável, houve exageros em sentido contrário aos dos anos de
chumbo. Como o da inconsequente permissividade nas regras do jogo
democrático refletida, por exemplo, no número inadmissível de partidos
com representação no Legislativo e com acesso a uma série de
prerrogativas, pagas, claro, pelo contribuinte.
Pois, na atual rodada de reformas, muitas impostas pela gravidade da
crise econômica — em que se destacam a do teto dos gastos, da
Previdência e a trabalhista —, há a feliz possibilidade de também se
poder aprovar uma reforma política adequada ao momento por que passa o
Brasil.
Surgida no Senado por iniciava dos tucanos Ricardo Ferraço (ES) e Aécio
Neves (MG), a emenda constitucional (PEC) 36 não se propõe a fazer
qualquer revolução, de forma correta, e ataca pontos estratégicos das
distorções da democracia representativa brasileira.
Como na cláusula de desempenho para que apenas legendas com um mínimo de
votos, regionais e nacionais, possam constituir bancada no Legislativo,
e ter acesso pleno ao Fundo Partidário e ao programa eleitoral dito
gratuito. Reforça a medida a proibição de coligações entre partidos em
eleições proporcionais. Necessária porque, sem isso, o eleitor pode
eleger alguém que sequer conheça, devido à redistribuição de votos
dentro de cada coligação.
A PEC já passou pelos dois turnos de votação no Senado e está à espera
da admissibilidade pela Comissão de Constituição de Justiça da Câmara.
Precisa ser apoiada.
Constituem bancadas no Congresso 28 partidos, dos 35 existentes. Por
certo, não existem no mundo tantas correntes políticas e ideológicas. E
ainda há 57 novas legendas na fila da Justiça eleitoral. Claro, são
atraídas pelas cifras do Fundo Partidário, hoje com mais de R$ 800
milhões bancados pelo contribuinte. Partido virou de vez negócio. E dos
escusos.
Cabe um esforço para que a PEC seja aprovada até setembro, a fim de que
já produza efeito em 2018. Será importante para ajudar neste ciclo de
reconstrução nacional.
extraídaderota2014blogspot
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