editorial do Estadão
Se Lula pretende contar com o apoio da militância de seu partido para se
livrar da Lava Jato e congêneres e candidatar-se à Presidência da
República no próximo ano, terá de agir rápido, porque o PT está
acabando: em cerca de 1.120 – quase 30% do total – das 4,1 mil cidades
onde se davam como organizados, os petistas não conseguiram montar uma
chapa de 20 filiados para compor o novo diretório municipal, no Processo
de Eleições Diretas (PED) realizado no dia 9 último em todo o País. É
uma situação que confirma a tendência registrada no pleito municipal do
ano passado, quando o partido perdeu mais da metade das prefeituras
conquistadas em 2010: caiu de 630 para 256, elegeu prefeito em apenas
uma capital, Rio Branco, e sofreu derrota humilhante em seu berço e mais
tradicional reduto eleitoral, a região do ABC.
O vexame do processo de eleições petista teve de tudo um pouco a
“explicá-lo”, desde a dificuldade para preencher as cotas obrigatórias
destinadas a mulheres, jovens, negros e índios até a suspeita de
fraudes, com denúncias sobre a existência de um grande número de nomes
fictícios e até de defuntos nas listas de eleitores. Nas situações
críticas que enfrentou ao longo de seus 37 anos de existência, o PT
esmerou-se sempre em fazer-se de vítima. Não é diferente agora. Quando
existem, permanecem restritas a ambientes protegidos as análises
autocríticas. Ninguém fala em público sobre, por exemplo, os escândalos
que levaram à cadeia destacados líderes do partido. E, no entanto, tais
escândalos de corrupção começaram no primeiro mandato de Lula e não
pararam mais. A culpa é sempre dos outros: “Essa queda (do número de diretórios) reflete
uma situação em que o partido perde com a saída de prefeitos e
vereadores em função dos ataques que sofremos”, justificou em depoimento
ao Estado o secretário nacional de Formação Política, Carlos Árabe.
Há ainda dirigentes que pretendem fazer crer que tudo está bem, apesar
de o comparecimento às eleições internas deste ano ter sido o menor
desde 2005 (300 mil) e atingido apenas 58% do maior deles, em 2009 (500
mil), e 72% do último, em 2013 (400 mil). “Ver que 290 mil pessoas
saíram de casa para votar mostra que o partido está muito vivo”, na
otimista opinião da vice-presidente do PT, Gleide Andrade.
Como em casa em que falta pão todos reclamam e ninguém tem razão, mais
esse confronto do PT com o doloroso processo de seu vexaminoso desmanche
tem sido motivo para o acirramento dos ânimos entre as correntes
internas do partido. Valter Pomar, da corrente Articulação de Esquerda,
adversário histórico de Lula e seu grupo majoritário, publicou texto em
que invectiva contra a direção partidária, a quem atribui a
responsabilidade pelas várias irregularidades constatadas no PED – e, em
particular, pelo fato de no município mineiro de Brasília de Minas
todos os 569 votos terem sido dados à chapa “oficial”, apoiada pelo
governador Fernando Pimentel. Classificou as irregularidades de “fraude
sistêmica, generalizada e em escala industrial”. Foi contestado por
Gleide Andrade: “O Valter Pomar não sabe nem onde fica Minas Gerais no
mapa”.
Politicamente encurralado numa situação adversa que só tende a piorar, o
PT apela para o quanto pior, melhor, nas palavras e nos atos. O
presidente do partido, Rui Falcão, em nota sobre a fracassada greve
geral de sexta-feira passada contra os “planos sinistros do governo
usurpador”, agrediu o bom senso e insultou o discernimento dos
brasileiros ao afirmar que, “além de pretenderem liquidar com a
aposentadoria e os direitos trabalhistas, querem também criminalizar a
esquerda e interditar o presidente Lula”, que “lidera todas as pesquisas
para as eleições de 2018, apesar da perseguição e da escalada de
mentiras contra ele”.
Falcão concluiu a nota reiterando a convocação, que, como se viu, não
teve o efeito que ele esperava: “O engajamento na greve geral, em defesa
dos(as) trabalhadores(as) e de suas reivindicações, tem relação direta
com as lutas pelo fim do governo ilegítimo e pela convocação antecipada
de eleições gerais para restabelecer a democracia violada pelos
golpistas”.
Tanto desespero, no entanto, não é causado pelo remorso que deveria assombrar os petistas responsáveis pelo assalto ao Tesouro.
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