por Luiz Carlos Da Cunha.
Venceram os sociais democratas com 46% dos votos; os bolchevistas obtiveram 20%. Mas não se conformaram. Imbuídos da teoria da “luta de classes”, miram o poder a qualquer preço. Arregimentam camponeses famintos, evadidos da terra, desertores do front, marinheiros escorraçados pela férrea disciplina da marinha imperial, e tantos aventureiros em busca de proveito imediato. Kerenski tencionava inaugurar uma legalidade democrática. Se tivesse êxito, o mundo teria sido bem melhor. O golpe bolchevique que Lênin havia preparado venceu.
A notícia de um governo de operários e camponeses assombrou o mundo, incendiando o imaginário do idealismo juvenil, e alarmando a sociedade e nações assentes no princípio da propriedade privada e da estabilidade jurídica consolidada em 250 anos. O golpe ousado, que se apelidou Revolução de Outubro, perdurou por setenta anos, oprimindo seu povo e propagando pelo mundo ódio, paixão e muita mortandade. Durou até que os fundamentos econômicos e a ditadura, sobre a qual se fundara a URSS, foram mostrando as fissuras progressivas da sociedade estatizada. Esboroando-se até o colapso em julho de 1991.
Dos escombros se escancarava a crueza dos crimes, a falácia da história oficial, a face da elite corrupta e brutal, a perseguição à inteligência independente, o anti- semitismo, os processos secretos, o império do terror. Era o mundo da mentira. O Nobel de literatura Boris Pasternak foi obrigado a renunciar ao prêmio; o físico Sakharov, condenado ao isolamento. Cientistas humilhados pelo “comissário político” se refugiaram no ocidente. O estado policial e criminoso da URSS submergiu. Mas o sonho democrático de Kerensky permanece ainda distante, cem anos depois.
• Escritor
extraídadepuggina.org
0 comments:
Postar um comentário