Vladimir Palmeira: O Globo
A divulgação das delações dos executivos da Odebrecht revelou o que já estava latente: o sistema político brasileiro está podre. Um dos delatores foi direto: “Não há quem tenha sido eleito sem caixa 2.” Mesmo quem não pegou diretamente, recebeu via partido.
Segundo as delações, Temer foi anfitrião e participou da reunião, junto a Cunha, dos acertos para o PMDB. Um terço de seus ministros será investigado agora pelo STF. Lula contrariou interesses da Petrobras (aquela que no slogan petista é defendida para defender o Brasil) para favorecer o Grupo Odebrecht no setor petroquímico. Aécio, Alckmin e Serra, do PSDB que dizia que era tudo obra do PT, estão também encalacrados. Até ao Fernando Henrique a coisa chegou. Um terço do Senado e um quinto da Câmara também estão na lista, que engordará se Cunha resolver abrir o bico.
Desse emaranhado, surgem dois discursos para tentar amenizar os fatos: 1) “Se todos faziam, não há de se crucificar ninguém. Fazia parte do jogo, e só podia entrar nele quem topasse as regras.” 2) “As delações são fruto de abusos do Poder Judiciário. Não podem servir de prova para nada.”
Ora, o fato de a corrupção ser generalizada não significa que seja menos grave. Pelo contrário. Em troca das doações, a Odebrecht e demais empresas envolvidas nos esquemas foram agraciadas com projetos de lei, medidas provisórias e tráfico de influência, em uma engrenagem de privatização da coisa pública e deturpação da vontade popular expressa nas urnas que envolve todos os partidos em alguma instância de poder. Sobre os abusos de juízes e promotores, é fato que eles existem e devem ser denunciados. Assim como não se pode negar que há uma instrumentalização das investigações por parte da grande mídia para perseguir mais a uns (Lula e PT à frente) do que a outros. Mas isso não invalida os fatos concretos que estão sendo delatados, e que são o centro da constatação de que o sistema político brasileiro apodreceu completamente. Ou alguém minimamente informado duvida da verossimilhança dos fatos narrados?
Em vez de se abrigar sob o manto do “todos fizeram” ou do “isso tudo é fruto de abuso dos juízes e perseguição da grande mídia”, como faz hoje o PT, assumindo uma postura conservadora que, no limite, apregoa que fique tudo como está (e que se materializa no noticiado acordão entre os ex-presidentes e o atual), o papel de uma esquerda transformadora deveria ser o de aproveitar a oportunidade gerada pela Lava-Jato, que expôs para todos que o rei está nu, para renovar a si e a suas práticas, e defender a completa reestruturação do sistema político brasileiro, no bojo da discussão de um projeto de país para o Brasil do século XXI.
O primeiro passo dessa caminhada? A cassação do atual mandato presidencial pelo TSE e a imediata convocação de eleições diretas para a sucessão de Michel Temer. Pois este Congresso que aí está, por todos os fatos revelados, não tem a menor legitimidade para eleger o sucessor do presidente cassado.
extraídadederota2014blogspot
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