editorial de O Globo
Mergulhada em sério conflito político e total estagnação econômica, a Venezuela vive a desestruturação de uma nação que já foi símbolo de riqueza e orgulho no continente. O país enfrenta um drama humanitário sem precedentes, com reflexos em toda a região.
Cada vez mais impopular e totalitário, o regime bolivariano, herança de Hugo Chávez, nega a realização de eleições, reprime manifestações, caça direitos de opositores e mantém na cadeia presos políticos sem crime. Mas, além dessas vicissitudes, e por causa delas, há o caos de um cotidiano marcado por precariedade e indigência.
A série de reportagens do GLOBO, sob o título geral “País em Penúria”, vai além dos discursos políticos e dos números frios da economia, ao revelar como é o dia a dia num país que desmorona a olho nu, ante a intransigência, a opressão e a mesquinhez de quem se apega ao poder a qualquer preço.
O governo de Nicolás Maduro fere a Constituição ao ignorar a voz da oposição na Assembleia, por meio de um Judiciário aparelhado, reforçando o caráter ditatorial do regime. O ato mais recente foi a cassação dos direitos políticos de Henrique Capriles, um dos líderes da oposição.
Além de atacar a independência dos poderes, base do sistema republicano, o governo de Maduro também exerce pressão e vigilância sobre a imprensa. Essas transgressões dos direitos humanos e da liberdade civil geraram críticas de governos e organismos multilaterais. O Mercosul e a OEA inclusive preparam medidas de afastamento da Venezuela por violação da cláusula democrática de seus estatutos.
Os que têm condições buscam a saída no aeroporto, os demais atravessam as fronteiras de forma precária para os países vizinhos, sobretudo Brasil e Colômbia. Segundo um levantamento da Universidade Central da Venezuela, nos últimos 15 anos, dois milhões de venezuelanos deixaram o país, a maioria jovens desiludidos diante da falta de perspectivas, configurando um verdadeiro êxodo de refugiados — a “diáspora venezuelana". Os que ficam enfrentam milícias bolivarianas e forças policiais, em protestos que vêm crescendo em intensidade e violência.
Ao narrar as histórias de vida de gente comum, a reportagem do GLOBO põe carne e sangue na ossatura da crise, revelando o malabarismo para sobreviver à hiperinflação (prevista para alcançar 1.660% este ano, segundo o FMI — a maior do mundo); ao racionamento de energia e água; aos mais altos índices de violência do continente (em 2016, foram mais de 28 mil mortes violentas e o número de assassinatos é de 92 por 100 mil habitantes); à escassez de remédios, médicos e alimentos (diante de longas filas e prateleiras vazias, os venezuelanos voltaram à prática do escambo, organizados por redes sociais); e à falta de dinheiro, inclusive para comer (mais de 81% vivem em extrema pobreza). Tudo resultado do “Socialismo do Século XXI”.
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